Título: Estatal precisa de R$ 20 bi só para o Madeira
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

Para especialistas, investimento é alto, tem riscos ambientais e governo terá de se esforçar para executar projeto

O Grupo Eletrobrás está à frente dos maiores projetos de geração de energia elétrica que deverão suprir a necessidade do País até 2015. A estatal comanda os estudos de viabilidade de pelo menos quatro usinas previstas no Plano Decenal de Energia, divulgado no início do mês pelo governo. São as hidrelétricas Jirau (3.900 MW) e Santo Antônio (3.580 MW), no Rio Madeira, Belo Monte (5.500 MW), no Rio Xingu, e a usina nuclear de Angra 3 (1.309 MW). Só o complexo do Rio Madeira exigirá cerca de R$ 20 bilhões na construção.

O grupo não esconde que já se tem movimentado para fazer parcerias com a iniciativa privada. A intenção, no entanto, é sempre entrar com participação minoritária nos projetos, afirmou o presidente da empresa, Aloísio Vasconcelos.

De qualquer forma, se a empresa sair vencedora dos leilões, o que não é muito difícil, sua participação no mercado brasileiro dará um salto surpreendente. Hoje as empresas controladas pela holding (Furnas, Eletronorte, Eletrosul, CGTEE, Itaipu, Chesf e Eletronorte) já detém cerca de 50% da capacidade instalada do País, sem contar projetos em construção, usinas arrematadas nos últimos leilões e as compras feitas pela estatal nos últimos meses.

Mas o governo terá de se esforçar bastante para conseguir atrair os investidores nessas empreitadas. Primeiro porque o fortalecimento estatal no setor não é visto com bons olhos pela iniciativa privada, que na década passada acreditou na privatização total da geração. Na época, apenas cerca de 15% do parque gerador foi vendido para o investidor privado.

Segundo, porque tratam-se de empreendimentos que envolvem altos investimentos, a exemplo do Madeira. Além disso, os projetos têm riscos ambientais elevadíssimos, já que estão em área sensíveis, como é o caso de Belo Monte, no Pará, que há mais 20 anos vem sendo remodelada para atender às exigências de ambientalistas e, mesmo assim, não consegue sair do papel.

Portanto, os projetos terão de significar um retorno muito bom para atrair o investidor privado, alertam os especialistas.

SEM RECURSOS

Na avaliação do secretário de meio ambiente do Estado de São Paulo, José Goldemberg, o governo federal terá de se esforçar bastante para conseguir tirar essas usinas do papel. Na avaliação dele, a viabilidade das hidrelétricas dependerá do cuidado que o Estado vai ter com o processo ambiental. "Eles acham que é trivial e subestimam as dificuldades para obter uma licença ambiental", avalia.

Goldemberg tem dúvidas em relação ao potencial da Eletrobrás para levar adiante tantos investimentos. "A empresa tem um passivo grande por causa de Angra. Não sei se tem tanto caixa sobrando assim", afirma ele, destacando que o sistema estatizante deste governo é muito ruim do ponto de vista de atratividade de investimentos.

O secretário também criticou o Plano Decenal de Energia do governo federal por não apresentar as fontes de recursos para a expansão do setor elétrico até 2015. "Não há uma palavra se referindo às fonte de recursos para os novos projetos. É um plano acadêmico, um roteiro sem estimativa de custos."

Ele também criticou o modelo do governo que tem incentivado fontes de energia mais poluentes, como as termoelétricas movidas a carvão. Como a produção nacional não é suficiente para abastecer as usinas, já começaram a levantar a possibilidade de importar carvão, diz o secretário. Além dos prejuízos ambientais, a medida afetaria a balança comercial.