Título: Palocci balança. E tudo funciona
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2006, Economia & Negócios, p. B1,3

Desgaste do ministro não contamina nem os mercados nem os empresários, que tocam seus planos em frente

Considerado o grande fiador da política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, já não é visto como essencial nem pelo mercado financeiro nem pelos empresários.

Na semana em que se agravou o seu desgaste com as denúncias que o ligam à República de Ribeirão - o grupo de ex-auxiliares que freqüentava uma casa em Brasília, e supostamente dedicado a lobby -, a economia funcionou normalmente. O mercado preocupou-se mais com os indicadores da economia americana do que com o "inferno" do ministro, como ele próprio definiu, na sua reaparição, sexta-feira. E a crise política no Planalto afetou pouco o movimento das cotações.

"Lula disse muitas vezes que a política econômica é do governo, não do ministro", afirma Adelmo Felizati, diretor-financeiro da Mangels Industrial.

O economista Edward Amadeo, citando fatos como o aumento das reservas internacionais, os resgates da dívida externa, a quitação do débito com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a queda do risco Brasil e as várias reduções da taxa básica (Selic), diz que "tudo isso confirmou a política econômica e deu mais razão para Lula não mudá-la".

Ele preocupa-se, porém, como boa parte do mercado financeiro, com o nome que substituirá Palocci. Para alguns analistas, a escolha de alguém não identificado com a linha ortodoxa do atual ministro poderia trazer alguma perturbação, mas nada comparável às crises de confiança do passado.

A Klabin, mesmo sentindo os efeitos negativos do câmbio sobre a sua capacidade exportadora, está tocando o plano de investimentos de US$ 1,5 bilhão em dois anos, que elevará a produção anual de 1,6 milhão para 2 milhões de toneladas de papel. Com ou sem Palocci, a empresa vê 2006 com relativo otimismo.