Título: Brasileiro vai ao espaço na 4ª-feira
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2006, Vida&, p. A28

Lançamento da nave Soyuz será às 23h29; astronauta Marcos Pontes ficará 8 dias na Estação Espacial Internacional

O primeiro astronauta brasileiro, Marcos Pontes, faz contagem regressiva. Na quarta-feira à noite no Brasil (já quinta-feira no Casaquistão), ele estará a bordo de um foguete rumo à Estação Espacial Internacional (ISS), onde passará oito dias em companhia de outros quatro astronautas e cosmonautas.

Pontes, de 43 anos, é o terceiro integrante da expedição 13, que levará a nova tripulação da estação e trará a atual, que está no espaço há seis meses. Ele acompanha na ida o comandante russo Pavel Vinogradov e o engenheiro de bordo americano Jeffrey Williams. Na volta, vêm o russo Valeri Tokarev e o americano William McArthur.

A viagem será feita a bordo de uma nave russa Soyuz, o único meio de transporte para o espaço - com a permanência na garagem, por tempo indefinido, dos ônibus espaciais da Nasa. O foguete será lançado às 23h29 (horário de Brasília) da base russa no Casaquistão.

Ele carrega oito experimentos científicos brasileiros vindos de diversas instituições e escolas, para serem conduzidos na estação, em microgravidade. O astronauta também ajudará na montagem e manutenção de equipamentos na ISS.

O retorno acontece no dia 9 de abril, também na Soyuz, que aterrissará no Casaquistão. Os três tripulantes serão resgatados e passarão por um período de readaptação à gravidade.

DEFINIÇÃO

Este é o ápice de um treinamento que começou oito anos atrás, quando o astronauta foi selecionado dentro de uma parceria com a agência americana: ele viajaria em um ônibus espacial em troca de peças que o Brasil forneceria para a ISS.

O acordo se mostrou muito oneroso para o País, que não cumpriu boa parte do que foi acertado e reduziu sua participação no projeto. A viagem de Pontes começou a atrasar, especialmente depois de um acidente matar sete astronautas a bordo do ônibus Columbia, em 1º de fevereiro de 2003.

Para viajar na Soyuz, o governo brasileiro desembolsou US$ 10 milhões, além de abrir espaço para que a Rússia participe da construção de futuros satélites.

Parte da comunidade científica nacional, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), é contrária ao acordo e preferiria ver o dinheiro gasto em pesquisa e desenvolvimento espaciais dentro do País. A Agência Espacial Brasileira (AEB) vê o valor como investimento na visibilidade do programa espacial.

O nome escolhido pela AEB para a missão tem uma carga simbólica sim, mas também um pouco de marketing: "Centenário", uma lembrança ao vôo de Santos Dumont a bordo do 14-Bis, em 1906. Pontes levará uma réplica do célebre chapéu do inventor.

O astronauta também carregará, na bagagem, alguns itens institucionais, como selos e medalhas comemorativas e uma bandeira do Brasil, que será entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando vier ao País, logo depois de passar pelo período de recuperação.

Durante a missão, estão previstas três conversas abertas com a Terra, nos dias 5, 6 e 7 de abril, a partir da estação.

FUTURO

Pontes é tenente-coronel e já demonstrou intenção de retornar ao espaço em alguns anos. Atualmente ele é o único astronauta brasileiro treinado.

No entanto, o presidente da AEB, Sergio Gaudenzi, disse que a continuidade do programa, com Pontes ou outro astronauta, depende do futuro da ISS e da manutenção da participação brasileira no projeto. A estação é vista como muito cara em comparação com o retorno obtido, científico e estratégico, pelas 16 nações que a mantêm.