Título: Snow a Mantega: 'O foco é o diálogo'
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, disse ontem ao novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que espera ter com ele a mesma excelente relação que manteve com seu antecessor, Antonio Palocci. O telefonema, iniciado por Mantega, foi o primeiro contato entre os dois desde a troca do comando da equipe econômica. Os dois ministros devem ter seu primeiro encontro durante a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird), na terceira semana de abril.

Enquanto Mantega e Snow conversavam, o secretário-assistente do Tesouro, Clay Lowery, detalhou o conteúdo básico da mensagem que o secretário do Tesouro transmitiu ao novo ministro da Fazenda numa entrevista exclusiva ao Estado. "O nosso o principal foco está na política econômica e em manter um diálogo com as pessoas na região", disse Lowery, que comandará a delegação dos EUA na reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Belo Horizonte, a partir deste fim de semana.

"O ministro Palocci teve boas relações com o secretário Snow. Eles tiveram discussões francas e honestas sobre questões fiscais, monetárias e relativas ao setor financeiro e à redução da pobreza. E sei que o secretário Snow quer trabalhar com o novo ministro e (ajudá-lo) a continuar o trabalho que o presidente Lula e o ministro Palocci fizeram de criar empregos, manter políticas sólidas e um rumo de crescimento sustentável para o País."

Lowery sublinhou a importância que o Tesouro atribui à continuidade da política econômica. "O Brasil precisa continuar a fazer o que tem feito, o que significa continuar a implementar boas políticas e manter a crença das pessoas de que o País é um bom investimento para brasileiros e estrangeiros."

Segundo o funcionário americano, "o Brasil manteve nos últimos anos políticas fiscais bastante sólidas e isso ajudou a reduzir o tamanho da dívida e criar um ambiente macroeconômico favorável, com crescimento, talvez não no nível que os brasileiros gostariam, e a criação de 3 milhões a 3,5 milhões de empregos. Os spreads e a inflação estão baixos, o crescimento econômico mantém boa forma, o que é bom para os brasileiros, e esperamos que mais possa ser feito."

Os governos devem manter-se diligentes diante do ambiente benigno da comunidade mundial, observou Lowery. Ele fez uma avaliação positiva da economia americana. Acrescentou, no entanto, que "é difícil prever de onde vêem os choques econômicos e não há nada que se possa fazer a respeito dos choques exógenos".

"O importante é manter o foco na política doméstica, fazer uma política macroeconômica a mais sólida possível, manter a disciplina e, ao mesmo tempo, encontrar meios para levar adiante as reformas microeconômicas de forma a aumentar o investimento e a poupança."

Diplomático, Lowery evitou comentar a mudança do comando da equipe econômica em Brasília. "É uma decisão que cabe aos brasileiros', disse. Numa atitude que reflete a disposição dos investidores de "esperar para ver" como Mantega atuará, o secretário-assistente do Tesouro indicou que Washington não pressionará Mantega. Em tom de blague, ele disse que "o novo ministro provavelmente ainda não sabe nem onde fica o banheiro do ministério" e "precisa de algum tempo para se instalar no cargo".