Título: Candidatos cortejam minoria árabe de Israel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2006, Internacional, p. A19

Comunidade representa 20% da população do país e pode fazer a diferença na votação de terça

BAQA AL-GHARBIYEH, ISRAEL

Ahmed Tibi acenou para os simpatizantes enquanto seu carro percorria lentamente a avenida principal desta cidade árabe, passando por lojas de tapetes, bancas de verduras e cartazes que o chamam de "filho da vila", código inconfundível para árabes que são cidadãos israelenses, mas resistem à identificação com Israel ou o sionismo.

"Olhem no espelho e vejam em quem vocês estão votando", disse Tibi a um grupo de potenciais eleitores da cidade, na fronteira com a Cisjordânia. Olhando-os nos olhos, ele continuou: "Os partidos sionistas são o problema, não a solução."

Enquanto se aproxima a eleição de terça-feira, os partidos árabes e os da corrente principal - aqueles que Tibi chamou de "sionistas" - brigam pelos votos de uma minoria alienada: os árabes israelenses. Uma pesquisa entre 500 eleitores árabes mostrou recentemente que só 16% planejavam votar nos grandes partidos. Na última eleição, 30% dos árabes israelenses votaram nesses partidos.

Cerca de 20% dos 6,8 milhões de cidadãos de Israel são árabes - um grupo diferente dos palestinos na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza. É um bloco significativo, que tem feito diferença nas últimas eleições. Os árabes israelenses se dizem frustrados com todos que tentam representá-los. Muitos criticam tanto os partidos árabes, por concentrar-se mais nas questões palestinas do que em suas próprias necessidades, quanto os grupos da corrente principal, por décadas de promessas não cumpridas.

A vitória do Hamas nas eleições palestinas acrescenta um novo elemento à já complexa relação política entre os judeus e os árabes de Israel. Mas os árabes dizem que só se preocupariam se essa vitória provocasse mais violência entre palestinos e israelenses. "Há um temor de que Israel imponha soluções e não negocie, como em Gaza, e isto levaria a choques que afetariam os árabes em Israel", disse Muhammad Amara, um árabe israelense que leciona ciências políticas na Universidade Bar-Ilan, em Tel-Aviv.

Alguns judeus israelenses preocupam-se com um crescente movimento islâmico que parece animado pela vitória do Hamas. Líderes da ala islâmica pragmática de Israel - que participa da política, ao contrário da facção mais militante - sublinham que representam a face moderada do Islã. "Somos contra todos os extremistas, sejam árabes ou judeus", afirmou o xeque Abas Zakoor, candidato do Movimento Islâmico.

Tibi, um ginecologista que é membro do Parlamento israelense desde 1999, entrou numa coalizão com a ala mais pragmática, que conta atualmente com duas cadeiras. O nacionalismo inflamado praticado por Tibi e os partidos árabes é um esforço para aproveitar a insatisfação da minoria. "As pessoas vivem sob discriminação contínua e planejada quando o assunto é economia, educação e emprego. Não vemos os governos israelenses mudando a situação", disse Ali Haider, co-diretor da Associação para a Promoção da Igualdade Cívica.

Os candidatos da corrente principal também cortejam o voto árabe, ostentando sua força política e prometendo melhorar cidades e vilas e as perspectivas de educação e emprego.