Título: BC reduz a projeção de inflação
Autor: Fabio Graner e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

O Banco Central (BC) reduziu discretamente sua estimativa para a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano. De acordo com o relatório de inflação divulgado ontem, o BC prevê que a inflação ficará em 3,7% em 2006, abaixo da meta de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Há três meses, o BC estimava o IPCA deste ano em 3,8%. A nova projeção foi feita por meio de uma simulação considerando juros constantes em 16,5% ao ano até dezembro e taxa de câmbio de R$ 2,15.

Já no cenário de mercado - em que se leva em conta uma queda no juro para 14,71% ao ano no último trimestre do ano e uma elevação no dólar para R$ 2,25 -, a projeção para o IPCA caiu de 4,9% para 4,6%, praticamente no centro da meta.

Apesar da melhora nas estimativas para a inflação deste ano e do fato de, no modelo do BC, ela estar bem abaixo da meta, isso não significa necessariamente que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai reduzir de forma mais acentuada os juros básicos, hoje reduzidos a um ritmo de 0,75 ponto porcentual a cada reunião.

De acordo com o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, as projeções são exercícios analisados pelo Copom, mas não podem ser considerados como definidores dos próximos passos que serão adotados na política monetária.

De maneira geral, o relatório reforçou o otimismo que o BC já manifestava no documento divulgado em dezembro passado. Para o BC, os últimos meses mostraram que está mais claramente definido um cenário otimista para a evolução da economia neste ano, com previsão de crescimento da produção, investimento, emprego e renda. Tudo isso sem que a inflação saia do controle.

Bevilaqua mostrou-se satisfeito com a trajetória da inflação, tanto no ano passado, quando a meta foi cumprida pelo segundo ano consecutivo, como em relação às expectativas para este e para o próximo ano.

Para 2007, o cenário de referência do BC projeta o IPCA em 3,9% (3,6% no relatório anterior) e o cenário de mercado projeta 5,4% (5,3% no anterior), ambos dentro da margem de tolerância da meta de 4,5%. "As expectativas refletem o esforço bem-sucedido de desinflação realizado no ano passado."

No mercado financeiro, a avaliação majoritária é de que o relatório de inflação não trouxe indicação alguma de um aumento na velocidade de cortes da Selic nas próximas reuniões. "Achei o relatório positivo, mas ele não é nada diferente do diagnóstico explicitado no de dezembro de 2005", afirmou a economista Tatiana Pinheiro, do Departamento Econômico do Banco ABN Amro.

Embora tenha melhorado a projeção do IPCA deste ano, o BC manteve em 4% a estimativa de crescimento da economia brasileira. De acordo com o relatório, os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre de 2005 e indicadores mais recentes sobre o nível de atividade econômica confirmam a avaliação, que já constava do relatório de dezembro, de que este ano será marcado por uma aceleração no ritmo de crescimento, quando se compara com 2005, ano em que a economia cresceu apenas 2,3%.

"O recuo das taxas de inflação, a melhora nos indicadores referentes ao mercado de trabalho, a elevação da renda real, o aumento das intenções de investimento, bem como os efeitos da flexibilização da política monetária e as perspectivas mais favoráveis para o setor agropecuário possibilitam antever para 2006 um cenário com crescimento superior ao observado em 2005", diz o documento.