Título: Imagem de Sharon marca uma campanha sem graça
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2006, Internacional, p. A18

Desde que assumiu interinamente a liderança do governo, Ehud Olmert preside as reuniões do gabinete israelense deixando uma cadeira vazia a seu lado, numa sóbria reverência a Ariel Sharon. A disputa eleitoral de terça-feira ocorre à sombra de seu principal jogador, que, mesmo fora de combate, vai determinar o resultado nas urnas.

O ex-general parece comandar mais essa campanha, apesar de estar inconsciente há quase três meses num leito de hospital em Jerusalém.

Alianças e desentendimentos com Sharon são a matéria-prima usada pelos principais concorrentes para tentar fisgar eleitores. Tudo é dito em seu nome, contra ou a favor de várias questões.

Quem mais apela para a imagem de Sharon é, obviamente, seu partidário Olmert. Não é à toa que o endereço do site eleitoral de Olmert na internet é www.kadimasharon.co.il.

Sharon também domina os spots televisivos e os anúncios impressos do Kadima.

O primeiro-ministro interino usa Sharon para vender ao público sua principal mensagem: a do plano de retirada de colônias judaicas da Cisjordânia. Afinal, foi o general da reserva linha-dura que dedicou sua vida a defender Israel, que desenhou e levou adiante o que chamou de "plano de desengajamento". E se o próprio Sharon, considerado o "pai" dos assentamentos, apóia a retirada da Cisjordânia, ela deve ser vital para a segurança de Israel.

Já o rival Binyamin Bibi Netanyahu, do partido conservador Likud, garante que, caso não estivesse em coma, Sharon seria contrário à retirada dos assentamentos da Cisjordânia. '"Não tenho a intenção de fazer mais uma retirada unilateral como a da Faixa de Gaza", diz Sharon num dos trechos de vídeo exibidos sem parar pelos conservadores.

Apesar do uso da imagem de Sharon, essa campanha eleitoral está sendo considerada uma das mais insossas das últimas décadas. De acordo com as previsões, o comparecimento dos eleitores vai ficar em torno dos 60%, um índice baixíssimo para Israel. Nas últimas eleições, em 2003, cerca de 69% dos eleitores compareceram às urnas.

Um dos motivos do marasmo - além da profusão de votações dos últimos anos - é justamente a popularidade de Sharon, apontada como a maior responsável pela vitória do Kadima.

Olmert está tão certo de que o partido ganhará nas urnas que enfureceu seus concorrentes, há duas semanas, ao proclamar triunfo antecipado: "Que o Kadima já venceu é certo. Agora só falta saber por quanto", disse o primeiro-ministro interino.

O comentário não ajudou a incentivar os eleitores, certos de que seus votos só vão chover no molhado.

A campanha também não contou com nenhum debate televisivo ou grande comício em praça pública. Poucos ativistas foram vistos distribuindo adesivos e santinhos em cruzamentos. O clima é de normalidade às vésperas de uma votação que pode definir o futuro das fronteiras do país. "Essas foram as eleições que não sentimos", comentou o conhecido jornalista Yair Lapid.