Título: Bevilaqua: há espaço para atuar no dólar
Autor: Fabio Graner e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

O Banco Central (BC) sinalizou ontem que ainda vê espaço para continuar a atuar no mercado de câmbio. "Estamos numa situação confortável. Mas, se olharmos para outros países emergentes, vemos que ainda podemos melhorar alguns dos nossos indicadores de solvência externa", disse o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, ao comentar o Relatório Trimestral de Inflação.

As atuações do BC, de acordo com Bevilaqua, teriam o objetivo de melhorar ainda mais a capacidade do País de resistir a eventuais crises externas. Segundo ele, há uma série de instrumentos à disposição do BC para prosseguir atuando e não descartou a retomada dos chamados swaps reversos - operações que têm o mesmo efeito de uma compra de dólar, mas sem envolver dinheiro físico.

"Vamos continuar atuando para melhorar nossa capacidade de resistência." Ele admitiu, entretanto, que estas condições hoje já não são mais "excepcionais". "Eu diria que hoje as condições são boas", comentou, lembrando a tendência de alta de juros nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, que têm causado uma certa turbulência no mercado externo.

O diretor do BC destacou, ao mesmo tempo, que a melhora dos fundamentos econômicos do País até o momento pode ter levado a uma mudança na chamada taxa de câmbio de equilíbrio, com maior entrada de dólares no País e a valorização do real.

Segundo Bevilaqua, desde o início de 2004 o BC já conseguiu comprar o equivalente a US$ 34,7 bilhões em suas intervenções no mercado de câmbio à vista. Com isso, as reservas internacionais passaram dos US$ 16 bilhões do início de 2003 para os cerca de US$ 60 bilhões hoje. "Neste mês de março até o dia 28, o BC já comprou US$ 3,074 bilhões."

O Tesouro Nacional já adquiriu o equivalente a US$ 9,1 bilhões no mercado de câmbio. Os recursos, neste caso, serão usados no pagamento de US$ 11,3 bilhões de dívida externa que vencerão neste ano. "Faltam US$ 2,2 bilhões para a meta ser alcançada."

O diretor do BC destacou também as operações feitas este ano para recomprar títulos da dívida externa brasileira de curto prazo. "As recompras feitas neste ano já estão em US$ 4,197 bilhões." O valor dessas operações, de acordo com Bevilaqua, poderá chegar aos US$ 20 bilhões.