Título: Planos para 'despaulistizar' o País
Autor: Rodrigo Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2006, Nacional, p. A11

Idéia de Alckmin é diminuir a influência de São Paulo em eventual governo

O paulista Geraldo Alckmin quer reduzir a hegemonia de São Paulo em sua campanha, dentro do PSDB e, se eleito para a Presidência, no governo federal. A idéia não é mero capricho do candidato tucano, mas uma decisão política de longo prazo, dizem seus aliados. Há um mês ele ouviu do triunvirato que coordenava a escolha do candidato tucano que seu eventual governo não poderia ser uma extensão de São Paulo, mas, ao contrário, deveria reduzir as distâncias do poderio político-econômico paulista para os outros Estados.

Alckmin apreendeu a lição e a amplificou: quer "despaulistizar" a campanha, o partido e, se ganhar a eleição, o governo. Os conselhos nesse sentido vieram principalmente do governador Aécio Neves (MG) e do senador Tasso Jereissati (CE), de Estados que se dizem pressionados pela hegemonia paulista. Na campanha, Alckmin vai prestigiar aliados, tucanos ou não, de outros Estados, para estimular a eleição de uma base parlamentar aliada pelo País. O seu escritório central de campanha será em Brasília.

Na semana passada, em entrevista ao Estado, Alckmin disse que seu ministério não seria um "paulistério", como nos governos Fernando Henrique e Lula. "Vai ser um brasilério", brincou. Ele pretende dar exemplos para reduzir as distâncias entre São Paulo e outros Estados - não só para evitar acusações contra a hegemonia paulista, que irá para o quarto mandato presidencial, ganhe Lula ou Alckmin, mas também para ampliar as condições de investimento e desenvolvimento de outras regiões.

METAS Num primeiro momento, Alckmin vai mirar a ampliação da futura base parlamentar que, se eleito, irá sustentar sua idéia de apresentar, como programa de governo, um "plano de metas" visando a harmonizar o desenvolvimento regional e dos Estados.

Essas metas deixam entrever que a ascensão de Alckmin vai provocar uma mudança de nomes e estilos no PSDB e no governo. Se eleito, sua provável fonte de sustentação no Congresso contará com nomes que até agora não pontificavam no universo tucano nacional. O atual governador Marconi Perillo, de Goiás, candidato a senador, deverá se destacar na articulação de um eventual governo Alckmin com o Congresso.

Apesar do esforço para diversificar, em termos de origem regional, sua base parlamentar, Alckmin vai começar a caminhada prestigiando aliados de primeira hora. Discretamente, se esforçará para eleger para a Câmara o seu atual secretário de Habitação, Emanuel Fernandes, ex-prefeito de São José dos Campos, e o líder do PSDB na Assembléia Legislativa paulista, Edson Aparecido. Também são nomes prestigiados os deputados federais Júlio Semeghini e Sílvio Torres (ambos do PSDB) e Dimas Ramalho (PPS), além do estadual Arnaldo Jardim (PPS). Todos concorrerão à Câmara dos Deputados.

A campanha terá três coordenações: a do programa de governo, que deve ser tocada pelo atual secretário de Ciência e Tecnologia, João Carlos Meireles; a operacional, que ainda não tem nome escolhido; e a de Comunicação, que, segundo aliados de Alckmin, será ocupada pelo jornalista Luiz Gonzalez. Pessoas próximas ao governador informam que a campanha será "franciscana".

Na preparação do programa de governo, os nomes começam a surgir. Na entrevista ao Estado, Alckmin citou o professor Yoshiaki Nakano, da FGV-SP e ex-secretário de Mário Covas, como sua referência na área econômica, assim como o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros.