Título: Alckmin: Lula tem de ficar bravo é com violação
Autor: Rodrigo Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2006, Nacional, p. A11

Governador questiona indignação do presidente contra opositores

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) transferiu ontem para o presidente Lula a responsabilidade pela crise que envolve o ministro Antonio Palocci, da Fazenda. Para Alckmin, a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, que denunciou visitas de Palocci à casa do Lago Sul, em Brasília, "é uma coisa inadmissível".

"Vi o presidente bravo, ontem (sexta)", declarou Alckmin, referindo-se às declarações de Lula sobre "jogo rasteiro" na campanha. "Ele tem que ficar bravo é com o fato. O fato é que é muito grave, como é que pode ocorrer violação desse sigilo bancário? O caseiro é o povo brasileiro. Não é possível cometer uma injustiça dessa proporção. Quando a pessoa é injustiçada você tem uma ameaça ao conjunto da sociedade."

Alckmin procurou poupar o ministro. Para ele, a permanência de Palocci na Fazenda é também responsabilidade de Lula e não pode ser creditada ao ministro. "Sempre digo que cargo de ministro é cargo de confiança do presidente, cabe ao presidente responder (se Palocci sai ou não), o presidente é que tem que dizer se tem ou não confiança no ministro", declarou o governador durante evento para criação de um parque na zona oeste da capital.

O tucano falou das queixas de Lula sobre o nível da campanha eleitoral. "A campanha vai ser discutir coisas do interesse do povo, projetos, trabalho. O País precisa andar depressa, isso é o que interessa. Agora, não tenho medo de cara feia." Depois, cobrou: "O Brasil não pode mais ser o penúltimo da América Latina e Caribe. Precisa ser o primeiro, precisa ser o líder, tem tudo para ser uma terra de oportunidades."

O governador disse que deixará o cargo no dia 30, quinta-feira. É uma precaução: saindo depois, sua desincompatibilização só sairia publicada no Diário Oficial do Estado depois do dia 31, último prazo previsto na legislação.

Na tarde de ontem, o pré-candidato tucano à Presidência encontrou o prefeito José Serra, com quem disputou a indicação do partido. O clima foi de entendimento. Os dois andaram de metrô e passearam em um shopping de São Paulo juntos. Mais cedo, o governador havia dito que busca ampliar o leque de partidos que o apoiará na eleição e que ajudaria na costura dessas alianças se o prefeito paulistano decidisse se lançar ao governo.

"Ontem (sexta) foi muito bom, praticamente fechamos com o PFL", disse Alckmin. "Vamos trabalhar para ampliar as alianças com quem esteja no campo da oposição e não tenha candidato próprio."