Título: Fator Serra leva PT a rever planos para eleição em SP
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2006, Nacional, p. A9

Cúpula petista não esperava enfrentar candidatura que hoje teria possibilidade de vencer no 1.º turno

O provável lançamento da candidatura de José Serra (PSDB) ao Palácio dos Bandeirantes está causando uma reviravolta nos planos do PT em São Paulo. Até agora os petistas pareciam tranqüilos, certos de que os tucanos não tinham nomes à altura para confrontar os dois pré-candidatos da sigla inscritos para a disputa: a ex-prefeita Marta Suplicy e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante.

A entrada de Serra em campo muda todo o cenário. Na opinião de alguns líderes petistas, se ele for mesmo confirmado restará ao partido trabalhar pela "política de redução de danos" - uma vez que "dificilmente" o PT conseguirá o comando do maior Estado do País. Afirma-se que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria feito essa avaliação.

"Se o Serra for sacramentado, teremos que trabalhar tendo como foco a nacionalização da campanha e dando prioridade à reeleição de Lula", afirma um graduado dirigente petista. "Tudo indica que só teremos eleições de primeiro turno. Vencemos em primeiro turno com Lula e perdemos o governo de São Paulo para Serra também no primeiro turno", avalia o mesmo petista.

Esta não é uma opinião isolada. Estão bem presentes nos meios petistas os resultados das últimas pesquisas sobre intenção de voto, indicando que, se a disputa fosse hoje, Serra seria tranqüilamente eleito governador, com quase 60% das intenções de voto.

PRAZO Nesse momento todas as atenções estão voltadas para Serra. Ele tem prazo até a próxima sexta-feira, dia 31, para decidir se renuncia ao cargo de prefeito da capital e se lança candidato ao governo do Estado.

Marta e Mercadante estão decididos a manter suas pré-candidaturas ao governo, mesmo que Serra seja o adversário. "Ninguém vai fugir da briga", diz um parlamentar ligado ao senador. "Voltar a enfrentar o Serra será ótimo para a Marta, que terá a chance de comparar a gestão dela com a dele", confirma outro petista, defensor da candidatura da ex-prefeita, que não conseguiu se reeleger em 2004, quando disputou o cargo com o atual prefeito.

O PT agendou para 7 de maio as prévias para a escolha do nome do partido que tentará ocupar a cadeira de governador de São Paulo, há 12 anos sob o controle do PSDB - primeiro sob a batuta de Mário Covas e, atualmente, de Geraldo Alckmin.

"Nenhum dos dois vai abrir mão e dificilmente o PT deixará de recorrer às prévias. Apenas um pedido do presidente Lula pode mudar o quadro", comenta um integrante da cúpula petista.

MOVIMENTO De qualquer maneira, o fator Serra já causou, na semana passada, o início de um movimento para que o processo de escolha do candidato petista seja antecipado. Até agora, porém, o presidente do PT em São Paulo, Paulo Frateschi, não concorda com a mudança da data.

"Um mês não muda nada. Temos que deixar o processo de escolha seguir seu curso normal", afirmou. "No dia 7 de maio o militante vai escolher o candidato que considera melhor para reeleger o Lula e fazer com que o partido fique competitivo no Estado." Sobre a candidatura Serra, diz que o embate não será fácil: "Mas vamos nos preparar para enfrentá-lo."