Título: Dos jeans e sandálias da Libelu a ministro acuado
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2006, Nacional, p. A7

Palocci teve infância humilde e educação rigorosa em Ribeirão, onde formou grupo que hoje é investigado

De ativista da Libelu (Liberdade e Luta), ala radical do movimento estudantil nos anos de exceção, a ministro da Fazenda sob fogo cerrado. Ao contrário dos assessores desconhecidos que deram vida e fama à república de Ribeirão, não é segredo para ninguém na cidade a rota de Antonio Palocci Filho.

Filho de pai servidor público, já falecido, e mãe costureira, Palocci foi criado no Castelo Branco, bairro simples de Ribeirão, onde nasceu em 1960. Mais novo de 4 irmãos, ele formou-se médico sanitarista na Faculdade de Medicina da USP/Ribeirão Preto. "Ele (Palocci) liderou os estudantes, mas depois, quando se tornou sanitarista e político, foi abandonando aquelas idéias", relata o médico Juan Yazlle, que foi professor de Palocci.

A Libelu de Palocci era ligada à Organização Socialista Internacionalista, formada em 76 a partir da fusão de dois grupos trotskistas, a Organização Primeiro de Maio e a Organização Marxista Brasileira. Na época, ele presidiu o Centro Acadêmico da Medicina e foi um dos fundadores do Comitê Brasileiro pela Anistia, em Ribeirão.

Os pais lhe deram infância modesta e educação rigorosa. O sr. Antonio era funcionário municipal de carreira. Homem de boa formação, dinâmico, ele era muito admirado por seu trabalho. Foi diretor do Departamento de Cultura. "Era pessoa de grande valor, muito culto", atesta o prefeito Welson Gasparini (PSDB).

D. Toninha, a mãe, não gostava nem um pouco quando o filho caçula saía à rua meio desleixado. Ia atrás de Palocci até o ponto do ônibus para ajeitar a gola da camisa solta. Do ganho com a costura, ela garantiu os estudos de Palocci e dos outros filhos, Pedro, o mais velho, que é médico também, Ademar e Orlando, que são engenheiros. Aos 65 anos, ela continua atuante, dedicando-se a projetos destinados a famílias carentes de Ribeirão.

O quadro da Libelu era um Palocci de calça jeans e de sandálias, magro e a barba por fazer. "Ele era bem despojado", atesta Fátima Rosa, vereadora pelo PT. Fátima era bancária e ficou amiga de Palocci por ocasião da primeira grande greve nacional da categoria, em 1985. Dois anos depois, o PT escalou o jovem médico de Ribeirão para sair candidato a uma vaga na Câmara Municipal. Em 1988, Palocci elegeu-se o primeiro vereador do PT na cidade. "Palocci já era uma liderança importante", ela conta.

Não terminou o mandato. Em 1990, candidatou-se e foi eleito deputado estadual, mas também não ficou até o fim porque em 1992 elegeu-se pela primeira vez prefeito de Ribeirão. Ficou os 4 anos no Palácio Rio Branco, sede da prefeitura e, em 1998, foi eleito deputado federal.

Uma vez mais não cumpriu o mandato até o fim porque em 2000 retornou ao Rio Branco. Prometeu e registrou em cartório que, desta vez, iria até o fim do seu mandato, mas dois anos depois atendeu à convocação do partido e assumiu a coordenação da campanha de Lula à Presidência.

Quando assumiu o cargo de ministro, Palocci nomeou assessores alguns personagens de Ribeirão, como Juscelino Dourado, que foi superintendente de autarquias, e Ralf Barquete - morto em 2004, foi secretário da Fazenda de Palocci, depois trabalhou na Leão Leão e, em Brasília, ocupou cargo de assessor especial da presidência da Caixa.

Mas foi Rogério Buratti quem desencadeou a crise. Um dos coordenadores da campanha de Lula em São Paulo, Buratti foi enviado pelo partido a Ribeirão em 1992. Chegou de fusquinha e morava de aluguel.