Título: Peru: Humala mantém liderança
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2006, Internacional, p. A13

Todas as pesquisas divulgadas ontem no Peru indicam a clara liderança do candidato nacionalista Ollanta Humala, do partido União Pelo Peru (UPP), nas intenções de voto para o primeiro turno da eleição presidencial de domingo. Mas os números apurados pelos institutos são díspares e lançam suspeitas sobre todos eles.

Segundo a empresa de pesquisa mais respeitada do país, a Apoyo, Humala perdeu 2 pontos porcentuais em relação à última sondagem, do dia 24, mas ainda lidera com 31%. A conservadora Lourdes Flores, da Unidade Nacional, tem 26%, 1 ponto a menos que na última pesquisa. O ex-presidente Alan García, da Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra), tem 23% - subiu 1 ponto - e já ameaça atropelar a passagem de Lourdes para o segundo turno, previsto para ocorrer em 7 de maio.

De acordo com a Apoyo, que realizou a pesquisa por encomenda do jornal El Comercio, Lourdes venceria Humala no segundo turno por 55% a 45%, já descontados os votos em branco e nulos. No caso de uma disputa direta entre Humala e García, o candidato da UPP venceria por 51% a 49%.

A pesquisa publicada pelo diário La República, realizada pela Pontifícia Universidade Católica do Peru, aponta para a liderança de Humala, com 31%, Lourdes em segundo, com 27%, e García em terceiro, com 20%.

O resultado mais surpreendente, no entanto, é do instituto Idice, que mostra Humala e García rigorosamente empatados na liderança, com 32,5% - relegando Lourdes ao terceiro lugar, com 23,8%.

Denúncias de manipulação de resultados de pesquisas têm sido feitas constantemente pelos candidatos e temidas pelos analistas políticos independentes do país. "Pelo calendário eleitoral, nenhuma outra pesquisa poderá ser divulgada até o dia da eleição", disse ao Estado o titular da cadeira de ciências sociais da Universidade San Martín de Porres, de Lima, Julio César Castro. "Nesta última semana, a campanha eleitoral entra num período de escuridão, abrindo o caminho para todo tipo de especulação, denúncias apócrifas na na internet, boatos, etc. Isso deve coroar a guerra suja entre os candidatos, que se observou durante toda a campanha."

Numa entrevista coletiva concedida ontem em Lima, Lourdes também questionou algumas cifras das pesquisas do fim de semana. Mas assegurou que seu partido tem estudos próprios, que lhe dão a certeza de que passará para o segundo turno e vencerá a eleição. Na entrevista, ela qualificou o voto em Humala de "um salto no precipício" e a votação em García de "mergulho no retrocesso".

Em outro dado preocupante registrado pelos analistas, os meios de comunicação peruanos assumiram total e abertamente a campanha anti-Humala. "Isso pode causar graves distorções na elaboração e na análise de números de pesquisa", afirmou uma fonte diplomática sob a condição de não ter o nome revelado. "Eu não me surpreenderei se, no domingo à tarde, as urnas indicarem um resultado bastante diferente do previsto."