Título: Reforma ministerial será mais ampla e complicada
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2006, Nacional, p. A4

Crise, acertos nos Estados e briga no PMDB levarão Lula a mexer em quase um terço da equipe

A reforma ministerial que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será obrigado a fazer até sexta-feira por causa da saída dos auxiliares que pretendem disputar as eleições de outubro será mais difícil e maior do que a sonhada por ele. A crise política que atingiu em cheio o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o difícil xadrez dos Estados e as disputas internas nos partidos, principalmente no PMDB, farão com que Lula mexa em quase um terço dos 35 ministérios e secretarias.

Com a decisão do Supremo Tribunal Federal de manter a verticalização - norma pela qual as alianças nos Estados devem ser coerentes com as coligações no plano federal -, o presidente não terá muita liberdade para mexer as pedras nos partidos aliados. Não sabe nem se todos seguirão com ele ou marcharão com outro candidato, principalmente com o tucano Geraldo Alckmin. Pelo menos por enquanto, Lula pretende manter duas cadeiras para o PMDB - Comunicações, com Hélio Costa, e Minas e Energia, com Silas Rondeau.

A terceira, da Saúde, hoje com Saraiva Felipe, que sai para disputar uma cadeira de deputado, deve voltar ao PT. O favorito é Antonio Alves, que foi secretário-executivo na gestão do petista Humberto Costa. O PMDB luta para guardar a vaga para Agenor Alves, atual secretário-executivo, mas é uma batalha quase perdida. Um ministro lembra que Felipe não conseguiu pacificar nem o PMDB mineiro.

No Ministério da Fazenda reside o maior problema. Se não tiver como manter Palocci, a solução pensada por Lula seria a simples substituição pelo secretário-executivo Murilo Portugal. Mas há a hipótese de chamar João Sayad, que está deixando o cargo no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e poderia assumir o posto.

Outro ministério complicado é o da Defesa. Lula tem conversado com o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, na tentativa de demovê-lo da decisão de sair. Disse a Alencar que ele tem todo o direito de escolha: "O Alencar é quem decide o que quer", disse Lula a um petista.

O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, quer disputar o governo da Bahia pelo PT. Conversou em outubro com o presidente sobre isso. Ouviu um pedido para que esperasse. Até hoje Lula não decidiu nada. Na sexta-feira, Wagner disse que vai sair, embora ainda espere uma última conversa com o presidente. Para seu lugar Lula tem quatro candidatos: o ex-presidente do PT Tarso Genro, os deputados Sigmaringa Seixas (PT-DF) e Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e o governador do Acre, o petista Jorge Viana.

No Ministério dos Esportes Lula não terá problemas. O PC do B já escolheu Orlando da Silva Júnior para a vaga de Agnelo Queiroz, que vai disputar o governo do Distrito Federal. Orlando é o atual secretário-executivo do ministério. Nos Transportes, Alfredo Nascimento sairá para disputar a vaga de senador pelo Amazonas. O nome do PL para substituí-lo é o do senador João Ribeiro (TO). É uma escolha problemática. Ribeiro já foi acusado pelo Ministério do Trabalho de manter em uma fazenda pessoas em regime de trabalho análogo ao escravo.