Título: O visionário da Grande Sérvia
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2006, Internacional, p. A18

Sonho expansionista fez do homem sem carisma um herói

Nascido em Pozarevac (Sérvia) em 1941, de pai teólogo ortodoxo e mãe comunista, que se suicidaram, Slobodan Milosevic, apelidado de Slobo, tinha 43 anos quando entrou na política em 1987. Os que o conheceram diziam que não tinha amigos desde criança, era um mentiroso patológico e sua concepção da vida e da morte era muito peculiar, talvez por causa do suicídio dos pais. Para muitos, ele era controlado pela mulher, Mira Markovic, que teria sido a responsável por muitas das posições políticas de Milosevic.

A ascensão desse homem introvertido e sem carisma foi fulgurante. Movido por um nacionalismo exacerbado e o sonho de criar uma Grande Sérvia, Milosevic se projetou como o homem que os sérvios esperavam: ele neutralizou seus adversários e, em 1987, obrigou seu mestre e mentor político, Ivan Stambolic, a se demitir, e assim chegou à presidência da Sérvia.

Em 1989, ele anulou a autonomia de Kosovo outorgada pelo ex-presidente da Iugoslávia, Josip Tito, em 1974, a esta província de maioria albanesa. Impunha-se em toda a Sérvia o culto a sua pessoa. Movido pela ambição e impressionado por seu triunfo, Milosevic incentivou seus compatriotas sérvios da Croácia a proclamarem a República Autônoma de Krajina e os sérvios da Bósnia a criarem a República do povo sérvio de Bósnia-Herzegovina.

Mas os episódios sangrentos dessa trajetória não se fariam esperar. O Exército iugoslavo converteu em ruínas a cidade croata de Vukovar, que passará à história como símbolo da resistência à ofensiva sérvia contra Sarajevo, de 1992 a 1995. Esta provocou a morte de milhares de pessoas, e o massacre do enclave de Srebrenica, na Bósnia, onde morreram 7 mil muçulmanos. Para evitar a limpeza étnica na guerra de Kosovo, a Otan interferiu em 1999 e bombardeou a Sérvia por 11 semanas, obrigando as tropas de Belgrado a deixar a província.