Título: PT conclui relatório paralelo
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2006, Nacional, p. A4

A tropa de choque do PT concluiu ontem o relatório paralelo que deseja aprovar na CPI dos Correios, em substituição ao do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que apontou a existência do mensalão para comprar o voto de aliados do governo no Congresso.

O PT se baseia em três pontos: refutar a tese de que o mensalão existiu para comprar votos de aliados; mostrar que o valerioduto teve origem em 1998 na campanha do então governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB), à reeleição; e negar que a origem dos recursos do mensalão tenha partido do esquema Visanet-Marcos Valério.

Os tucanos prometem reagir à inclusão do nome de Azeredo como origem do valerioduto. Mas também farão de tudo para impedir que a CPI fique sem um relatório, como aconteceu com a CPI do Banestado, que encerrou seu prazo sem conclusão por conta da briga entre governo e oposição. Assim, os tucanos vão lutar para preservar o relatório de Serraglio. Se para isso for necessário deixar lá o nome de Azeredo, vão fazê-lo. Até porque consideram que, se houve crime eleitoral, esse já prescreveu e não há mais nada a fazer contra o senador.

O ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, um dos principais conselheiros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defende a aprovação de um texto de consenso.

Nos bastidores, ele luta para não chamuscar ainda mais a imagem do governo, que ficará com a pecha de ter transformado a CPI dos Correios em pizza, caso a comissão encerre os seus trabalhos, no dia 10 de abril, sem a aprovação de um texto com as conclusões das investigações.

Pelos cálculos do Planalto, o governo teria uma maioria frágil para rejeitar o relatório de Serraglio. A avaliação, no entanto, é que o governo não dispõe de votos suficientes para aprovar o relatório paralelo em produção pelo PT. Afinal, parlamentares do PP, do PTB, do PL e do PMDB na comissão não estariam dispostos a aprovar o substitutivo petista, que aproveitará as partes do relatório de Serraglio que propõem a punição de dirigentes e políticos de seus partidos. A CPI dos Correios tem 32 integrantes: 16 deputados e 16 senadores.

Já os oposicionistas estão confiantes que, até quarta-feira, vão conseguir reverter e, dessa forma, aprovar o relatório de Serraglio. O fiel da balança são os deputados Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), que ora sinalizam estar ao lado do governo ora dos opositores ao Planalto. Ligado ao PFL e amigo de Gilberto Kassab, que na sexta-feira assumiu a Prefeitura de São Paulo, Faria de Sá já foi avisado que passará "a pão e água", sem ter seus pleitos tanto na cidade quanto no Estado atendidos, caso vote com o Palácio do Planalto. Os oposicionistas também tentam convencer a cúpula do PMDB a liberar seus parlamentares para votarem a favor do relatório do peemedebista.