Título: Decisivo na sucessão, PMDB pende mais para tucanos nos Estados
Autor: João Domingos e Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2006, Nacional, p. A6

Tudo indica que o PMDB não lançará candidato a presidente da República, numa campanha que deverá ser dominada pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva, em busca da reeleição, e pelo tucano Geraldo Alckmin. Ainda assim, políticos experientes avaliam que o PMDB será decisivo na disputa. E, nos Estados, o partido está mais perto do PSDB do que do PT.

Gigante no País, com diretórios estruturados em 4.671 municípios, 2.079.398 oficialmente filiados - quase o triplo do PT -, 9 governadores, 1.057 prefeitos, 8.315 vereadores, 140 deputados estaduais, as maiores bancadas no Senado (21) e na Câmara (82, empatado com o PT), o PMDB deverá sair da eleição maior ainda.

Dirigentes partidários avaliam que as urnas darão à legenda mais governadores e deputados do que tem hoje. Dos nove governadores do partido, sete vão disputar a reeleição. E só um até agora acenou para a possibilidade de apoiar a chapa do presidente Lula.

Para tratar das parcerias na eleição, a Executiva do PMDB marcou reunião para quarta-feira. "Pelo levantamento que estou fazendo em cada Estado, o partido mais próximo do PMDB é o PSDB", diz o presidente da legenda, o deputado Michel Temer (SP).

Fiel ao seu perfil, nem bem começaram as negociações e o partido já está rachado. Em São Paulo, por exemplo, uma ala quer que Temer seja o candidato a vice do tucano José Serra; outra quer que o ex-governador Orestes Quércia dispute a eleição para o governo estadual. Se houver acordo com Serra, Quércia pode sair candidato a senador.

Pré-candidato a presidente da República vencedor das prévias informais do partido, o ex-governador Anthony Garotinho aguarda o desenrolar das negociações da direção de seu partido com o PSDB. Já se especula a possibilidade de ele sair candidato a vice na chapa de Geraldo Alckmin, embora seja uma hipótese muito remota, pois o tucano teria preferência por um pefelista do Nordeste.

"O PSDB está abrindo o Sudeste para o PFL; nós vamos levar o PSDB para o Nordeste", afirma o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

Como o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a verticalização - regra que veta coligações estaduais contrárias à aliança nacional dos partidos - valerá para as eleições deste ano, o melhor para o PMDB será não lançar ninguém como candidato a presidente. Assim, fica livre para fazer as alianças com quem quiser nos Estados.

Se o partido decidir pela candidatura própria, porém, não deverá fazer muita diferença. O PMDB é o campeão da infidelidade. Em 1989, boa parte traiu Ulysses Guimarães e apoiou Fernando Collor; em 1994, foi a vez de o partido esquecer o candidato oficial Orestes Quércia e despejar seus votos em Fernando Henrique Cardoso.

Como tem muita experiência nas alianças informais, o partido deverá consolidá-las nos Estados, repetindo o que ocorreu em todas as eleições depois da retomada da democracia e do pleito presidencial, independentemente de ter nome na disputa.

Rodrigo Maia aposta que o PMDB não terá candidato próprio, optando por dar o apoio a Alckmin. "Pela sua característica, para o PMDB será mais cômodo não ter candidato e assim ficar livre para fazer as alianças que quiser nos Estados", sugere. "Isso fará com o que o PMDB tenha competitividade na disputa para os governos estaduais em pelo menos 15 disputas e que faça uma bancada maior do que a de agora."

Contrariando os que acreditam que o PT sofrerá uma drástica redução em sua bancada na Câmara, Maia acha que o partido de Lula é competitivo e não sofrerá muitas baixas. Para ele, a legenda manterá seus 80 deputados atuais - não conseguindo repetir o desempenho de 2002, quando elegeu 91. "Acho que os deputados do PT mudarão o perfil, mas acredito que o partido manterá seus atuais 80. Muitos virão por força do Bolsa Família", diz ele.

É no Bolsa Família - programa que atende a 11 milhões de famílias - que tanto o presidente Lula quanto os candidatos petistas a outros cargos apostam para vencer as dificuldades que o PT terá para fazer alianças eleitorais fora do parceiro tradicional, o PC do B. Isso porque, se depender dos interesses regionais, o PMDB deve seguir com Alckmin, principalmente nos Estados maiores, como São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Pernambuco.

Os três primeiros Estados têm 40% dos eleitores. Em compensação, na avaliação dos estrategistas do Planalto, os votos em Lula no Nordeste hoje seriam na proporção de 5 para o presidente e 1 para Alckmin.

Pode ser uma avaliação excessivamente otimista dos governistas, mas tanto PSDB quanto PFL estão preocupados. Por isso, já fecharam alianças em Pernambuco, onde o candidato a governador será Mendonça Filho (PFL); a senador, Jarbas Vasconcelos (PMDB), e a vice-governador um nome do PSDB.

Outro Estado em que já está feito acordo é o Rio Grande do Norte. O senador Garibaldi Alves (PMDB) será candidato a governador, o PFL indicará o vice e o PSDB lançará o candidato a senador.

Em Alagoas, a tendência é que essas coligações se repitam. E a senadora Heloisa Helena não será candidata à reeleição, pois vai disputar a Presidência com Lula e Alckmin.

Na Bahia, não há possibilidade de uma coligação dos tucanos com o PFL. Lá, o PSDB do líder na Câmara, Jutahy Júnior, é inimigo do PFL do senador Antonio Carlos Magalhães. Para derrotar o inimigo comum, PSDB, PT e PMDB podem caminhar unidos, mesmo que informalmente. O candidato petista é o ex-ministro Jaques Wagner.

O Paraná reservou uma surpresa para o presidente Lula. O governador Roberto Requião, quase sempre um aliado do petista, desta vez deverá fazer aliança com o PSDB. Ele sai candidato à reeleição, recebe o apoio dos tucanos e trabalha para eleger novamente ao Senado Álvaro Dias.

Em Santa Catarina, o governador Luiz Henrique (PMDB) costura uma aliança com o PSDB para enfrentar dois inimigos: José Fritsch, do PT, e Esperidião Amin, do PP.

Em Minas, o governador Aécio Neves (PSDB), candidato à reeleição, pode trocar seu vice, hoje do PFL, por um do PMDB. O presidente Lula tentou convencer o ministro das Comunicações, Hélio Costa, a sair candidato à sucessão de Aécio, mas ele não quis enfrentar o tucano. No Rio, já estão adiantadas as conversações entre PMDB e PSDB. Lá, não há possibilidade de os peemedebistas comandados por Garotinho se aliarem a Lula.

No Rio Grande do Sul, cada partido segue sozinho a sua estrada. Se Germano Rigotto não for candidato à reeleição, o nome do PMDB deverá ser Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. A deputada Yeda Crusius vai disputar pelo PSDB e o ex-ministro Olívio Dutra pelo PT.

Em Goiás, também não há possibilidade de acordo entre PMDB e PSDB. Mas o PFL integrará a chapa apoiada pelos tucanos, que tem à frente Alcides Rodrigues (PP), ex-vice de Marconi Perillo. No Distrito Federal, o trio PMDB/PSDB/PFL caminhará junto. O PFL deve lançar o candidato a governador; os outros, a vice e a senador.

Curiosa é a situação do Ceará. O deputado Eunício Oliveira, presidente do PMDB, negocia sua candidatura ao Senado em duas frentes. Conversa com o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, e com os comandados de Cid Gomes (PSB), que deve disputar o governo. Cid é irmão do ex-ministro Ciro Gomes, que deve concorrer a uma vaga de deputado federal.