Título: Fazenda é alvo do MST pela 5.ª vez em dois meses
Autor: Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2006, Nacional, p. A10

A derrubada de árvores e de cercas, além do incêndio de uma lavoura de 125 hectares de soja, na Fazenda Coqueiros, voltou a deixar o clima tenso durante o fim de semana em Coqueiros do Sul, no noroeste gaúcho. Os proprietários suspeitam de que as ações mais uma vez tenham sido comandadas pelo Movimento dos Sem-Terra (MST), que mantém dois acampamentos nos arredores e já invadiu a propriedade quatro vezes.

As ações começaram logo ao amanhecer de sábado, quando cerca de 300 sem-terra tentaram cercar um destacamento da Brigada Militar e derrubar um posto de observação montado dentro da fazenda, próximo de um dos acampamentos do MST. Os soldados receberam reforços e conseguiram conter o grupo, sem enfrentamento, de acordo com informações do coronel Waldir José Reis Cerutti.

Na seqüência, os sem-terra derrubaram dezenas de pinheiros americanos de uma área de reflorestamento e usaram alguns troncos para obstruir uma estrada vicinal que liga Coqueiros do Sul a Carazinho. A polícia orientou os motoristas a usarem atalhos e só conseguiu liberar o trânsito ao meio-dia.

No domingo, os funcionários da Coqueiros constataram novos prejuízos - a derrubada de dois quilômetros de cerca, numa área de pastagem. Enquanto tomavam providências para evitar a fuga do gado, enfrentaram, à tarde, um incêndio que destruiu grande parte de uma plantação de soja. A lavoura seria colhida no final do mês.

"É uma verdadeira guerrilha", queixou-se um dos proprietários, Félix Guerra. "Eles estão decididos a nos tornar improdutivos na marra." Ele afirma que as "sabotagens" do MST, ora por invasão ora por ações como as do final de semana, já causaram prejuízos próximos a R$ 500 mil. Na última invasão, no início de março, os sem-terra depredaram uma serraria e uma linha de transmissão de energia que passa na propriedade.

Um dos coordenadores estaduais do MST, Silvio dos Santos, confirma que o movimento quer a desapropriação da área. Também admite que a derrubada de algumas árvores foi obra de acampados - em ato de "ajuda" aos moradores de Coqueiros do Sul, que aguardariam a construção de uma nova linha de transmissão de energia.

"Os proprietários querem impedir a passagem dos fios", acusa Santos. "É um absurdo uma pessoa impedir que toda uma comunidade seja beneficiada."

O coordenador do movimento nega, no entanto, responsabilidade pelas outras ações e desconfia que tenham sido iniciativa de adversários do MST, interessados em incriminá-lo. "Sempre que fazemos uma ação como essa (derrubada dos pinheiros), surgem acusações paralelas, infundadas, contra nós", comentou.

O diretor jurídico da Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul (Farsul), Nestor Hein, questiona os argumentos do sem-terra e lembra que, antes de o movimento montar os seus acampamentos na região, a fazenda nunca havia enfrentado problemas como depredações e sabotagens.

Preocupado, Hein adverte as autoridades de que a situação no local, em virtude dos ânimos exaltados, pode acabar terminando em tragédia. Ele critica, ainda, as despesas do poder público com os dois acampamentos, tanto pelo envio de cestas básicas como pela manutenção de uma base policial.