Título: Documento revela como SNI seguia passos de Lula
Autor: Marcelo de Moraes e Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2006, Nacional, p. A10

Papéis secretos dos arquivos militares comprovam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi vigiado clandestinamente pelo serviço de informações do governo quando era líder sindical e dirigente do Partido dos Trabalhadores. Agentes da Polícia Federal do Rio Grande do Sul acompanharam cada passo de uma das passagens do futuro presidente da República por aquele Estado, em 1981, de acordo com um documento confidencial do Serviço Nacional de Informações (SNI), com a data de 22 de maio daquele ano. O documento faz parte dos arquivos secretos do governo militar que foram transferidos para o Arquivo Nacional, em Brasília, e aos quais o Estado teve acesso com exclusividade.

Com o título Atividades de Luiz Inácio da Silva, Lula, no Interior do RS, o relatório de três páginas, acompanhado por recortes de jornais gaúchos, é minucioso. Começa dizendo que "aos 12.05.81, às 14.30 horas, o epigrafado chegou a Rio Grande/RS, onde foi recepcionado com um almoço no Clube Ipiranga".

Na reprodução das conversas e discursos de Lula a que tiveram acesso, os agentes asssinalaram que ele não via com boas perspectivas o ano de 1982. "O quadro político e econômico é sombrio", teria dito. Mesmo assim acreditava na possibilidade de eleições diretas para a Presidência da República - o que só ocorreria em 1989.

Lula foi acompanhado por todas as cidades gaúchas por onde passou: "Em Pelotas, na Praça Coronel Pedro Osório, reuniu-se com líderes sindicais e integrantes do PT e após discursou fazendo sérias críticas ao governo e ao Regime, o qual disse ser de corruptos e ladrões."

Em Santa Maria, Lula "tentou conseguir adeptos para o PT, sem sucesso". Diz o relatório: "Não foram conseguidas as adesões esperadas no meio operário e estudantil."

Em Ijuí, o líder petista discursou para cerca de 800 pessoas. "Criticou o uso de terras pelo Exército, que, no seu entender, 'não servem para nada', e o apoio dado pelos demais partidos políticos da oposição por ocasião do episódio das bombas do Riocentro", prossegue o texto. "Concluiu fazendo um apelo aos trabalhadores para que se filiassem ao PT."

Outro discurso de Lula em São Borja também está registrado. "Fez uma retrospectiva de sua atuação desde quando iniciou no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, até quando provocou 'a greve da história do Brasil, ela que conseguiu paralisar 145 mil trabalhadores', segundo suas próprias palavras, e a posterior intervenção 'quando foi tirado da direção' pelo governo."

Os agentes anotaram ainda que Lula criticou os outros partidos de oposição: "Quando chega a hora de falarem pelo povo, eles se omitem."