Título: Indicação é restrita e polêmica
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2006, Vida&, p. A24

Retirada da mama não deixa a mulher 100% protegida

Sem dúvida, a mastectomia profilática é a tentativa de prevenção mais radical. Os médicos não são contra nem a favor. Eles a indicam como uma das alternativas e, na maioria das vezes, só para mulheres que se encaixem em determinados grupos de risco.

Um deles, aquelas que pertencem ao chamado Modelo de Gail, uma espécie de cálculo para identificar o perfil. Entre os principais pontos de avaliação do Modelo de Gail, a idade da paciente, a data da primeira menstruação - quanto mais cedo, nos dois casos, maior o risco - e a idade da primeira gestação - quanto mais tarde, menos proteção.

O histórico familiar também faz parte do Gail. Um parente de primeiro grau que teve câncer de mama antes dos 35 anos, dois parentes próximos com menos de 40 anos, três com menos de 50 ou uma pessoa que tenha tido câncer na mama e nos ovários na família são alguns dos principais sinais de alerta.

A técnica também pode ser indicada para o câncer de mama de origem genética. Cerca de 10% é desse tipo. Trata-se de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 que são hereditárias.

A paciente pode também, preventivamente, optar por tomar medicações específicas. "Os remédios fazem com que o risco de câncer de mama caia em cerca de 40% e, mesmo assim, o efeito não é para sempre", diz o mastologista Silvio Bromberg, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Existe também a possibilidade de acompanhar o possível aparecimento da doença com exames semestrais a partir dos 35 anos. "De modo geral, a indicação de cirurgia é para tumores com mais de 2 cm", diz Luiz Antônio Lopes Silveira, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Mastologia. Hoje, tumores com até 3 cm de diâmetro podem ser eliminados numa cirurgia chamada quadrantectomia, na qual se extrai um quarto da mama.

"A pessoa pode achar que com a mastectomia profilática radical está 100% protegida, mas nem assim está", diz Mário Mourão Neto, mastologista do Hospital do Câncer. Ainda restam cerca de 10% de risco, já que não se retira todo o tecido mamário.

"Na cirurgia preventiva, as chances de preservação da camada superficial da pele dos mamilos e do músculo da mama são maiores em relação à mastectomia", continua Silveira. O esvaziamento, em geral, é feito por meio de cortes parecidos com os da cirurgia de diminuição dos seios: ou em volta do mamilo ou embaixo da mama. O preenchimento é feito na maioria das vezes com silicone ou gordura abdominal.

"Não há dúvidas sobre a eficácia da técnica", diz Alfredo Barros, mastologista do Hospital Sírio-Libanês. "Mas o que tem de ficar muito claro para a paciente são os riscos de complicações. "Plásticas malfeitas, necroses e descoloração do mamilo são algumas. Além disso, a mulher só fica com a sensibilidade térmica e tátil. A erógena é perdida."