Título: Estação abandonada vira endereço de família
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2006, Economia & Negócios, p. B5

Val de Palmas, na zona rural de Bauru, já foi estação de passageiros, no corredor da Novoeste, sentido Bolívia. Adenise Evangelista, 15 anos, prepara um café onde um dia funcionou uma bilheteria. A estação Val de Palmas é agora o endereço da família Evangelista. Ali, cercada por paredes que contam histórias, Adenise, a irmã Daniele e os pais vivem há um ano. Têm autorização da Rede Ferroviária Federal, conta ela.

A estação é parte de um espólio abandonado, de valor cada vez menor. É parte de uma história corroída pelo tempo. Há de tudo ao longo da antiga Rede. Estações, vagões, locomotivas, galpões, tudo largado como se valor não tivesse. Menos a casa-estação de Adenise, conservada como um lar.

Em Sorocaba, por exemplo, fileiras e fileiras de vagões e locomotivas velhas e obsoletas entopem o estacionamento de trens. O mesmo ocorre em Bauru, onde um cemitério de vagões torna o cenário de abandono ainda mais triste. O mato já cobre tudo. A história é tão antiga quanto controversa.

A Novoeste diz que já devolveu tudo o que não precisa. São vagões de 1940, locomotivas da década de 60. Se funcionam? Não importa. Mesmo que funcionassem não servem para a demanda atual. A obsolescência tornou tudo entulho de aço e ferro.

O Sindicato dos Ferroviários de Bauru, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso alega que os ativos não podem ser devolvidos na situação em que se encontram. "Há locomotivas que foram usadas como fonte de peças. Foram canibalizadas, não funcionam mais. Agora, as empresas querem devolver. É justo que a Rede não queira receber", explica Roque José Ferreira, coordenador-geral do sindicato. Pelo menos a estação Val de Palmas, apesar de abandonada, tem alguma utilidade.