Título: Os alicerces da integração regional
Autor: Luiz Inácio Lula da Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2006, Economia & Negócios, p. B6

Nestes pouco mais de três anos de governo, dediquei-me pessoalmente a fazer avançar a unidade da América Latina e, em particular, da América do Sul. Sempre estive convencido de que nossos países só superarão os desafios do desenvolvimento e da desigualdade social se forem capazes de juntar suas vozes no concerto internacional e de somar seu potencial econômico e produtivo. A experiência mostra que não há outro caminho para nós fora da união e da integração de nossas economias e sociedades.

Tenho insistido em que a importante rede de acordos comerciais de que já dispomos requer uma malha eficaz de conexões energéticas, viárias e de comunicações entre nossos países para gerar o incremento do intercâmbio regional que ambicionamos. É a integração da infra-estrutura física que permitirá a circulação eficiente de bens e serviços na região e, assim, a criação de cadeias produtivas e de indústrias verdadeiramente regionais que viabilizem a inserção competitiva de nossos países em uma economia cada vez mais globalizada.

Nesse esforço inédito de criação de uma infra-estrutura integrada, estamos gerando novas frentes de trabalho e oportunidades, além de resgatar populações historicamente marginalizadas dos centros dinâmicos de nossas economias, como é o caso das comunidades fronteiriças e amazônicas. A integração que perseguimos almeja primordialmente melhorar as condições de vida de nossas populações, reduzindo a pobreza e dando sentido concreto ao conceito de cidadania.

Na América do Sul, estamos avançando na execução de uma série de obras que constituem o alicerce de uma verdadeira comunidade regional. Cada país elegeu pelo menos dois projetos prioritários, que compõem a agenda imediata da Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA). Tais empreendimentos têm evidente efeito multiplicador para nosso desenvolvimento econômico e social, na medida em que atraem investimentos, fomentam negócios, modernizam nossas estruturas produtivas e multiplicam postos de trabalho.

Esse projeto comum requer soluções inovadoras de financiamento. Implica um comprometimento dos poderes públicos, dos setores empresariais e dos organismos nacionais e regionais de fomento. O governo brasileiro tem feito a sua parte. Por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Programa de Financiamento às Exportações (PROEX) do Banco do Brasil, estamos promovendo a exportação de bens e serviços com interesse direto para a integração continental. Encontram-se em andamento ¿ ou em fase adiantada de negociação ¿ 41 projetos com financiamento brasileiro, num total de US$ 4,2 bilhões. A Corporação Andina de Fomento (CAF) tem também cumprido um papel relevante na viabilização dessas obras, seja por meio de financiamentos ou de garantias ao crédito. Em 2005, Brasil decidiu incorporar-se como membro pleno da CAF e aumentar seu aporte de capital à instituição. Outra ferramenta importante dessa engenharia financeira regional tem sido o Convênio de Créditos Recíprocos da ALADI.

Diante da envergadura do desafio de construir e integrar a infra-estrutura regional, os recursos e as modalidades de financiamento existentes são, no entanto, insuficientes. É por isso que julgo muito oportuna a iniciativa de colocar essas questões no centro da agenda da reunião da Assembléia de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que se realiza em Belo Horizonte, no Brasil, de 3 a 5 de abril corrente. Desde sua criação, no ano de 1959, o BID tem contribuído para aproximar os setores públicos e empresariais de nosso continente na busca de soluções criativas para o financiamento do desenvolvimento econômico e social.

Nas conversas que tenho tido com o novo presidente do BID, Luis Alberto Moreno, coincidimos quanto à importância que os temas de infra-estrutura devem assumir nas atividades do Banco. Tenho a certeza de que a reunião de Belo Horizonte confirmará nossa união de propósitos e abrirá novas perspectivas para realizar o pleno potencial de integração solidária de nosso continente