Título: Bastos, capital do ovo, entra em estado de alerta
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Bastos, a "capital do ovo", entrou em estado de alerta por causa da gripe aviária. Na cidade paulista, que tem quase mil galinhas por habitante e é a maior produtora de ovos do Brasil, todos os moradores que criam aves soltas nos quintais estão sendo obrigados a se desfazer dos plantéis.

A Comissão Municipal de Prevenção da Influenza Aviária, formada por representantes da Prefeitura, da Secretaria Estadual de Agricultura e dos granjeiros, usou um sistema de geoprocessamento via satélite para rastrear as 216 criações caseiras no município, onde vivem 15.517 aves.

A criação do desempregado Renato do Sacramento Filho, de 40 anos, não escapou. Sacramento cria 180 patos, marrecos, perus, gansos e galinhas caipiras num quintal cercado com tela, na periferia da cidade. "Baixei o preço para acabar logo com tudo, pois não quero encrenca." O pato, antes vendido a R$ 10, agora sai a R$ 6, e a galinha caipira baixou de R$ 7 para R$ 4. Sem emprego há seis anos, Sacramento está perdendo seu ganha-pão em nome da proteção das 120 granjas de poedeiras que sustentam a economia da cidade.

A comissão adotou antecipadamente uma portaria ministerial que baixou medidas de prevenção contra gripe. O objetivo é evitar que essas criações tenham contato com aves migratórias, possíveis transmissoras do vírus.

Os donos de aves de quintal na área urbana estão sendo intimados a dar fim nelas. Os da zona rural podem optar pela eliminação ou pelo aprisionamento das aves. "Somos o primeiro município do Brasil a aplicar a portaria", diz o diretor da Associação Paulista de Avicultura (APA), Carlos Ikeda.

Além disso, o acesso ao interior das granjas está restrito a veterinários e tratadores. Nenhum veículo entra sem passar por um pulverizador gigante com desinfetantes. "Se a gripe chegar aqui, a cidade fecha", diz Agnaldo Rodrigues, gerente de um supermercado.