Título: Evo ataca 'invasor' que saqueia recurso natural
Autor: Eduardo Kattah e Raquel Massote
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Economia & Negócios, p. B1

O presidente da Bolívia, Evo Morales, fez ontem um forte ataque às elites capitalistas da América Latina na abertura oficial da 47ª reunião anual das Assembléias de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ontem em Belo Horizonte. "O saque aos recursos naturais e a discriminação contra os índios têm que acabar."

Na ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Evo foi o centro das atenções no evento. Com seu traje típico, encerrou a solenidade com um discurso longo contundente, para uma platéia de cerca de 1,3 mil pessoas, que lotou o teatro do Palácio das Artes.

O ex-líder cocaleiro, primeiro presidente indígena do país, repetiu a defesa dos setores marginalizados e excluídos da Bolívia e a condenação do "saque" histórico de seus recursos naturais por povos "invasores". "Queremos refundar a Bolívia e acabar com esse estado colonial", afirmou.

Evo sublinhou, contudo, que o processo de mudanças por que passa a Bolívia é uma "revolução democrática" e não "armada".

Na coletiva à imprensa, o presidente boliviano fez questão de exibir a página de um jornal de seu país que o apontava com um índice de 80% de apoio popular. "Com apenas dois meses de governo", comentou. "Isso não somente apoio dos indígenas, das classes populares, mas também da classe média, dos intelectuais."

PERDÃO DAS DÍVIDAS

Evo Morales também tomou frente na questão envolvendo a proposta de perdão das dívidas dos países mais pobres da região com o BID. A proposta de perdão dos débitos com o banco interamericano é um dos principais pontos de discussão do encontro deste ano. E interessa particularmente à Bolívia, que acumula uma dívida de US$ 1,6 bilhão com a instituição, de um total de US$ 3,5 bilhões devido pelos países mais pobres da região.

O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, destacou que não há oposição do Brasil no perdão das dívidas dos países pobres com o BID. Este é o ponto que mais interessa aos bolivianos na reunião do BID. No último sábado, o ministro da Fazenda da Bolívia, Luis Alberto Arce Catacora, se encontrou com o governador do Brasil no BID e ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para tratar do assunto.

"Não há oposição do Brasil. Pelo contrário, há até uma posição simpática", disse o assessor especial da Presidência. "Não estou dizendo que haja aceitação, mas não há oposição, isso está claro. Eu diria até que de uma maneira geral, no BID, o clima que eu pude sentir é um clima de simpatia por essa proposta", completou Garcia, lembrando que a dívida da Bolívia com o Brasil já foi perdoada.