Título: Mantega: Lula quer gradualismo
Autor: Fernando Dantas e Rita Tavares
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Economia & Negócios, p. B4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou pelo crescimento gradual da economia e por debelar a inflação antes de colocar o País em um ritmo mais forte de expansão, disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). "O presidente Lula escolheu o caminho do crescimento gradual, que não fosse muito acelerado, para que não houvesse volta", disse Mantega. "É um crescimento degrau por degrau, para durar mais tempo."

Segundo Mantega, o Brasil deve crescer de 4% a 4,5% em 2005 e tem condições de ter expansão no médio e no longo prazo a um ritmo anual de 5% a 5,5%. Reiterou o "compromisso de baixar a carga tributária". O ministro disse que as eleições presidenciais não terão efeito na economia porque os fundamentos estão sólidos e, pela primeira vez, "estão sobrando dólares" em ano eleitoral. "Já ouvimos o rufar dos tambores da campanha e a economia não se abala com isto."

Mantega voltou a afirmar que o superávit primário de 4,25% do PIB será cumprido em 2006. Disse que "o que muda na política econômica é nada, porque a política não é do ministro, mas do governo Lula".

Ele procurou rebater a desconfiança do mercado em relação ao fato de que o superávit primário acumulado no ano está em nível bem menor do que o de 2005 durante o mesmo período. Explicou que em 2006 há uma racionalização dos gastos e do investimento, evitando-se o padrão dos últimos anos, de economia no começo do ano e gastança no final - lembrou que em ano de eleições o gasto público fica restrito no segundo semestre. "Quando quiser, o governo pode reduzir o gasto público", disse Mantega.

O mercado, porém, continuou preocupado quanto à sustentabilidade da política fiscal no médio e no longo prazos, diante do contínuo e acelerado aumento das despesas públicas. Um analista de banco disse haver um consenso no mercado de que este é um grande problema e Mantega, citando Nelson Rodrigues, retrucou que "todo consenso é burro". E acrescentou que "entre economistas, é mais perigoso, é melhor que haja divergências".

O ministro mostrou números para tentar provar que o crescimento das despesas correntes não é tão problemático e insistiu na tese de que os desequilíbrios da Previdência podem ser sanados com melhorias na arrecadação, formalização do trabalho e crescimento econômico mais acelerado.

Ele observou que as melhoras de gestão na Previdência já produzem resultados e que o déficit este ano será de R$ 42 bilhões ou R$ 43 bilhões, abaixo dos R$ 50 bilhões previstos pelo mercado. "A Previdência está tendo um ajuste importante, a arrecadação está em elevação e os gastos tendem a se estacionar."

O ministro da Fazenda deixou implícito que o Banco Central (BC) se preocupa com o nível real da taxa de câmbio, algo que a diretoria do BC nega sistematicamente. Falando das excelentes condições externas do Brasil atualmente, com sobra anual de US$ 30 bilhões entre superávit em conta corrente e investimentos externos diretos, disse que este volume de dólares "dá dor de cabeça para o BC enxugar, para que o real não se valorize acima do que é razoável".

As críticas que fez à política monetária do BC antes de se tornar ministro foram deixadas de lado: "Se houve exagero, isto é coisa do passado." Importante, disse, é que a pressão inflacionária foi debelada e o Brasil está entrando em um ciclo de crescimento sustentado com superávit externo e inflação em queda, condições que o País quase nunca experimentou simultaneamente no passado. "A política atual está dando bons resultados e o Brasil tem condições inéditas para o crescimento."

Em relação ao futuro, Mantega citou as reformas microeconômicas, trabalhista e do Judiciário.