Título: Furlan defende meta de crescimento
Autor: Paula Puliti
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Economia & Negócios, p. B5

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, disse ontem que o governo deveria adotar regimes de metas de crescimento econômico e de investimentos, e não apenas metas de inflação como faz atualmente.

Segundo ele, o País deveria seguir o exemplo de outros emergentes como a Rússia, Índia e China, que adotam planos estratégicos e conseguem crescer mais do que o Brasil. "As metas podem fazer a diferença para nós."

Segundo Furlan, o a meta de crescimento do País deveria ser de mais de 5%. Já o investimento, deveria ser de pelo menos 25% do Produto Interno Bruto (PIB). "Superados os ajustes que ainda precisam ser feitos, teremos condições de fixar metas o mais rapidamente possível", comentou, durante evento com empresários em São Paulo.

Para o ministro, há questões de fácil solução para a atração de investimentos no País, como a melhora dos portos, aeroportos, estradas e ferrovias. "Os gargalos da logística são fruto de baixíssimos investimentos", afirmou. "A média histórica de investimentos no Brasil é inferior a 20% do PIB, muito baixa", afirmou .

PESO DOS IMPOSTOS

O ministro reclamou também da carga tributária, que segundo ele cresceu mais de 10 pontos porcentuais nos últimos dez anos. "Apesar da recente desoneração do setor de bens de capital e da construção civil, o alto nível de impostos penaliza a produção e o investimento", afirmou.

Apesar dos entraves, o ministro disse acreditar que o País tem condições de crescer no mínimo 5% este ano, superando as projeções do mercado, que são de 4% do PIB. Segundo o ministro, a expansão pode ser atingida com alguns ajustes, como a continuidade da redução dos juros, o aumento dos investimentos e a melhoria na infra-estrutura, além de redução de entraves burocráticos que possam limitar o incremento das exportações.

O ministro afirmou que o Brasil está pronto para crescer de modo estável e contínuo. "É hora de jogarmos no ataque, perdendo o medo de crescer", afirmou. "É só fazermos o que está combinado", acrescentou, referindo-se ao cumprimento de metas já estabelecidas de inflação e de superávit. O ministro do Desenvolvimento acha que não há mais risco de o País enfrentar um processo de inflação de demanda. Para o ministro, há sobra de capacidade produtiva, o que pode suprir a demanda interna mesmo com um crescimento maior da economia.

De acordo com Furlan, mesmo que, eventualmente, o uso da capacidade instalada estivesse perto do esgotamento, o câmbio apreciado permitiria que produtos importados abastecessem o mercado interno.

O ministro disse que a valorização do real pode ser freada com a modernização da atual lei cambial, que data de 1936. Ele lembrou que o projeto de reforma, elaborado pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, foi apresentado ao Congresso no início do ano.

O ministro voltou a defender a queda dos juros. "Com a inflação sob controle, temos a oportunidade de reduzir uma importante barreira do crescimento nacional: a taxa Selic", afirmou. Os juros menores, disse ele, podem estimular os investimentos e também o mercado interno, fatores altamente necessários para o crescimento do País acima dos 4% projetados pelo mercado.

CORTE DA TJLP

O ministro elogiou o corte da TJLP de 9% para 8,15% na semana passada e disse que a redução mostra o compromisso do governo federal com o estímulo aos investimentos. Ele disse esperar que nas duas próximas reuniões do Conselho Monetário Nacional (CMN), uma em julho e outra em setembro, ocorrem dois novos cortes, fazendo com que o Brasil tenha uma taxa de longo prazo mais competitiva. Furlan preferiu não dizer qual TJLP seria ideal, mas informou que basta ver as taxas de juros de qualquer outro país para se saber que os juros brasileiros são um "ponto fora da curva".

Furlan afirmou que o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, compartilha com a idéia de adoção pelo Brasil de um plano de desenvolvimento, mas não fez qualquer crítica ao antecessor, Antonio Palocci, cuja atenção era mais voltada ao cumprimento das metas de inflação e de superávit primário. O ministro participou ontem, em São Paulo, de um encontro com empresários do Fórum de debates da Associação de Dirigentes de Vendas do Brasil (ADVB).