Título: Rússia volta a importar carne do Rio Grande do Sul
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Economia & Negócios, p. B8

Coincidindo com a chegada do primeiro-ministro russo, Mikhail Fradkov, ao Brasil, o governo de Moscou levantou o embargo à importação da carne do Rio Grande do Sul. A Rússia impôs restrições à compra de carne gaúcha a partir de 13 de dezembro, após a divulgação de suspeita de focos de febre aftosa no Paraná. Desde então, o governo brasileiro, incluindo o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, tentou convencer os russos a retirarem a barreira ao produto de regiões que não fazem fronteira com o Estado do Paraná.

Em um comunicado emitido ontem em Moscou, o Ministério da Agricultura da Rússia confirmou o fim do embargo às carnes gaúchas a partir de hoje. A nota foi assinada pelo escritório de questões fitossanitárias do ministério. Outros Estados brasileiros ainda permanecem sob o embargo.

Em fevereiro, Palocci esteve em Moscou e aproveitou para discutir o assunto com os técnicos russos. O então ministro apresentou dados sobre a febre aftosa e tentou convencer o governo que o problema não afetava o Rio Grande do Sul. Na época, os russos apenas afirmaram que avaliariam a situação.

Os exportadores apontavam que a Rússia, maior consumidor de carnes brasileiras em todo o mundo, teria de rever o embargo, já que precisa do produto nacional para abastecer o seu mercado.

INSPEÇÃO

Apesar de resolver o problema agora das carnes gaúchas, o governo russo não dá nenhum sinal de que vá modificar sua forma de operação no Brasil. Os russos contam com três veterinários no País que fazem o serviço de inspeção nos carregamentos para Moscou.

No Brasil, quem faz a liberação das carnes nacionais para o mercado russo é a empresa Welby, que tem sede em Itajaí (SC). A Welby presta serviços ao governo russo, fiscalizando e autorizando o embarque das carnes brasileiras. A empresa não é do governo de Moscou, mas seus funcionários se negam a revelar quem seria o proprietário.

Segundo os exportadores de carne bovina, a Welby cobra US$ 14,5 por tonelada de carne autorizada a ser embarcada. Isso significa que, em 2005, a empresa coletou quase US$ 15 milhões apenas para certificar a carne nacional.

Como o Brasil já faz o mesmo processo de certificação, muitos exportadores consideram esse modo de operação uma falta de confiança da parte dos russos em relação ao trabalho prestado pelos veterinários brasileiros.

O dinheiro pago pelos exportadores brasileiros para as inspeções é depositado no Uruguai, um paraíso fiscal, apesar de a empresa estar registrada no Brasil.