Título: Televisão digital só deve estrear no Brasil em 2007
Autor: Gerusa Marques e Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Economia & Negócios, p. B9

A operação comercial da TV digital no Brasil só deve começar mesmo em 2007. A previsão foi feita ontem pelo diretor de Engenharia da Rede Globo, Fernando Bittencourt. A demora do governo em escolher o padrão tecnológico a ser adotado no País vai atrasar também os testes da transmissão dos programas da TV aberta em sinal digital, que devem ocorrer só no fim do ano.

Esse calendário contraria os planos do governo, que queria fazer os testes em junho, durante a Copa do Mundo, e iniciar a operação comercial em 7 de setembro, como anunciou o ministro das Comunicações, Hélio Costa. "Comercialmente não dá mais tempo de entrar neste ano. O que pode haver é uma demonstração na Copa do Mundo", disse Bittencourt, após debate no Conselho de Comunicação Social do Senado.

Segundo o diretor da Globo, que representou nos debates a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações, as emissoras de TV precisam de um ano a um ano e meio para a entrada comercial. E lembrou que a indústria de televisores também não estará pronta para produzir novos aparelhos em menos de um ano.

O governo tem de escolher entre os padrões japonês, europeu e americano. As emissoras já declararam a preferência pelo japonês, que também tem a simpatia de Costa. Ele confirmou, ontem, a viagem que uma delegação de ministros fará ao Japão e à Coréia na segunda-feira, para negociar a instalação de uma fábrica de semicondutores no País. O resultado das negociações, disse o ministro, constará no relatório que os ministros do Comitê de Desenvolvimento da TV Digital apresentarão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas não marcou data para a conclusão do documento, nem para o anúncio do padrão.

Essa viagem, segundo Bittencourt, aumenta as possibilidades de o governo optar pelo sistema japonês. "Se estão criando um grupo para ir para o Japão, é porque tem grandes chances." Mas ganha força no governo a tese de que a delegação deve passar também pela Europa. A idéia foi defendida há uma semana pelo embaixador da União Européia (UE) no País, João Pacheco - e, segundo fontes próximas ao Palácio do Planalto, tem apoio do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. A passagem pela Europa seria para reverter uma tendência verificada entre os ministros do Comitê de Desenvolvimento de apoio ao padrão japonês.

Ontem, o diretor de Tecnologia e Pesquisa da Philips do Brasil, Walter Duran, informou que a UE ofereceu ao governo brasileiro isenção da taxa de importação para televisores digitais e conversores produzidos no Brasil e vendidos para países europeus. Seria uma das contrapartidas pela opção pelo sistema europeu.

Em carta encaminhada ao governo brasileiro pela UE, em 24 de março, a Philips e a ST Microelectronics manifestam interesse em instalar no Brasil uma fábrica de semicondutores, mas informam que isso dependeria do resultado de estudo de viabilidade, que poderiam levar um ano para ficar pronto - mesmo prazo dos japoneses.