Título: Do artesanato para a Petrobrás
Autor: Ana Paula Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Economia & Negócios, p. B16

As 200 artesãs do projeto Carnaúba e Açu, no Rio Grande do Norte, encontraram um cliente surpreendente para sua produção. Acostumadas a vender esteiras de palha de carnaúba para quem quer tomar sol ou decorar a sala, elas viraram fornecedoras da Petrobrás. Suas esteiras estão sendo usadas como isolante térmico nas tubulações que conduzem vapor.

"A Petrobrás compra toda a nossa produção, e já há outras empresas interessadas", diz a coordenadora do projeto situado em Açu (RN), Gracia Ramalho. "Foi uma mudança para ambas as partes. Nossos negócios estavam parados porque o artesanato em palha de carnaúba era muito pouco valorizado, e a Petrobrás gastava muito com os isolantes de alumínio. Agora, nós temos trabalhos para 200 mulheres e a Petrobrás economiza 30% com o novo material."

A oferta de um produto eficiente, mais barato e a capacidade de atender a demanda abriram as portas para que o Carnaúba Viva atendesse a estatal. "As milhares de micro e pequenas empresas precisam se profissionalizar, ter instrumentos de gestão que possibilitem que elas sejam competitivas. Assim, poderão não só para trabalhar para a Petrobrás, como para outras empresas", disse o diretor de Serviços da Petrobrás, Renato de Souza Duque.

O sucesso das mantas incentivou os jovens da comunidade de Açu a se qualificarem e buscar cursos técnicos para atender a outras necessidades da empresa. "Alguns aprenderam a impermeabilizar as esteiras e viraram novos prestadores de serviços da empresa," conta Gracia.

A Filtros Filtrex, de Macaé (RJ), também descobriu que, mesmo sendo uma micro-empresa, poderia se tornar fornecedora da Petrobrás. Com 25 funcionários, a empresa desenvolveu filtros especiais para petróleo, abriu um novo mercado e mudou sua perspectiva..

"Antes fazíamos filtros automotivos para Fusca, para Chevette, coisa de R$ 2. Só dava para pagar as contas. Aí resolvemos criar algo que eles pudessem usar com petróleo", diz o gerente de Vendas da Filtrex, Fabiano Marun. "O nosso produto ficou 60% mais barato que o filtro alemão que eles importavam, e entregávamos em 15 dias, contra 90 deles."

A empresa concentrou sua produção em filtros para petróleo e deixou de fabricar peças para carro. Embora seu faturamento tenha caído, por ter aberto mão de seu antigo mercado, valeu à pena. O lucro aumentou porque os filtros para petróleo são mais rentáveis. Além disso, o contrato com a estata abriu portas e gerou mais negócios para a Filtrex. "Recentemente, uma empresa de Joinville (SC) pediu alguns filtros para nós", conta Marun. "Ter um cliente grande é uma excelente carta de apresentação. E a empresa pequena tem a vantagem de ser flexível e fazer aquilo que os clientes precisam."

SEGURANÇA

A Griaule, empresa que surgiu incubada na Incamp, em Campinas, cresceu com a demanda por segurança após o 11 de Setembro, nos EUA. Criadora de tecnologias de reconhecimento de impressões digitais, teve como um de seus primeiros clientes a Secretaria de Segurança Pública do Tocantins. "Depois deste, outros clientes começaram a surgir em diversas partes do mundo", diz o gerente de Cooperação Institucional da empresa, André Nascimento de Paula. A sueca West Media Systems e a mexicana Paquet Express são alguns dos clientes.

"Um de nossos novos produtos, que fez muito sucesso, foi um software que funciona com diversos leitores de impressão digital, inclusive da Microsoft", diz o gerente. De 2004 para 2005, os lançamentos e contatos fizeram a empresa saltar : o faturamento da Griaule foi de R$ 200 mil para R$ 3 milhões. "E existe muito campo a ser explorado." Segundo o International Biometric Group (IBG), a leitura de impressões digitais deve responder por 44% do mercado global de biometria.

"Não sei se algum dia pensamos que a empresa fosse chegar a esse ponto", diz de Paula. "Mas se há tecnologia e capacidade de atender grandes corporações, não vejo razão para não tentar."