Título: Crescimento zero desencantou até a Sicília
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Internacional, p. A14

Há cinco anos, a esperança da Sicília em Silvio Berlusconi, o homem fabulosamente rico que prometeu impostos menores, mais empregos e uma Itália progressista, estava nas alturas. Berlusconi e seus aliados conquistaram todas as 61 cadeiras do Parlamento siciliano.

"Ele brincou com a nossa confiança", disse Paolo Piraino, de 69 anos, dono de uma loja em Palermo, a conservadora capital da Sicília, e que votou no partido de Berlusconi em 2001, mas não tem certeza se fará isso de novo. "Ele simplesmente fala demais", disse Piraino. "Estamos um tanto desorientados, principalmente no setor empresarial e econômico".

Em 2001, a Sicília deu a Berlusconi e a sua coalizão de centro-direita a acolhida mais forte entre todas as regiões da Itália, mas a atual falta de interesse nele tem repercutido por toda a Itália no momento em que se aproximam as eleições nacionais, marcadas para domingo e segunda-feira.

É bem possível que Berlusconi não tenha chance de chegar ao segundo mandato, porque, na opinião dos italianos, a economia está tendo um mau desempenho. E não ajuda o fato de o próprio Berlusconi não compartilhar da melancolia geral, apesar do crescimento de 0% na economia em 2005.

"Não dêem atenção aos jornais que falam sobre declínio", advertiu Berlusconi aos principais empresários do país numa reunião no mês passado. "Um empresário tem o dever do otimismo. Abram os olhos! Onde está a crise"? Oferecendo um ensopado de fatos e números, Berlusconi ateve-se a sua análise otimista no primeiro debate com seu oponente de centro-esquerda, Romano Prodi. O resultado foi que um número ainda maior de seus defensores ficou preocupado com o abismo entre as palavras de Berlusconi e aquilo que os italianos - muito menos ricos - acreditam.

Essa diferença, que os críticos dizem que o fez perder o primeiro debate, também pode lhe custar a eleição. (A maioria das pesquisas mostra o ligeiramente atrás de Prodi.) "Berlusconi vai perder por causa disso", disse Enzo Bianco, ex-prefeito da cidade siciliana de Catânia e agora membro do alto escalão do partido Margarida, de oposição. "Todo mundo sabe que as coisas não estão indo bem".

Lorenzo Codogno, economista-chefe para a Europa do Bank of America em Londres, foi igualmente abrupto. "Não está indo bem", disse ele. "Você pode questioná-los, mas os números estão aí para mostrar que a economia não tem funcionado".

O número principal é aquele zero no crescimento em 2005, que incluiu um breve período de recessão. Desde que o país adotou o euro, em 2002, os preços de muitos produtos de primeira necessidade foram às alturas, deixando os italianos se sentindo mais pobres, embora a inflação geral tenha continuado relativamente baixa.