Título: Debate na Itália não ajuda indecisos
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Internacional, p. A14

O primeiro-ministro conservador Silvio Berlusconi e o líder opositor de centro-esquerda Romano Prodi participaram ontem à noite do último debate pela TV antes das eleições gerais dos dias 9 e 10, com a atenção voltada para os eleitores indecisos. Até o início do debate, eles representavam fatia de 30% do eleitorado. Entre os que já se decidiram, as sondagens apontam vantagem pequena de 3 a 5 pontos porcentuais para Prodi.

Logo no início do debate, uma observação de Prodi irritou Berlusconi, que se sentiu ofendido. Prodi afirmou: "Algumas pessoas usam os números como os bêbados, os postes. Não para se iluminar, mas apenas para se segurar." Diante dos protestos do adversário, Prodi explicou com um ar irônico que em nenhum momento quis ofendê-lo, mas apenas citar uma frase do escritor Bernard Shaw.

O debate não foi decisivo e nem serviu para ajudar os indecisos a definir o voto, pois os candidatos se alternaram em ataques e defesas. Prodi começou melhor, cobrando um balanço dos cinco anos do governo Berlusconi, suas promessas e resultados. A Itália apresenta hoje um crescimento zero, o mais baixo da Europa, e atravessa uma crise financeira sem precedentes. Com ar professoral, Prodi levantou a questão da evasão fiscal no país, estimada em 200 bilhões. Indagado sobre como pretendia financiar seu programa de governo, Prodi lembrou que bastava reduzir essa evasão em 20 ou 30%.

Berlusconi tentou retrucar afirmando que um governo de esquerda só servirá para aumentar impostos. Ele citou a intenção da oposição de valorizar o parque imobiliário italiano com o claro objetivo de aumentar a arrecadação de impostos. Colocado na defensiva por Prodi em relação ao nível de aproveitamento da mulher na administração pública, hoje um dos mais baixos da Europa, Berlusconi disse que, se eleito, vai nomear uma mulher para as funções de vice-primeiro-ministro.Os problemas econômicos e fiscais predominaram a tal ponto que no fim, sem que Prodi pudesse contra-atacar , Berlusconi prometeu cancelar os impostos sobre o primeiro imóvel adquirido pelos cidadãos. Cerca de 82% dos italianos têm casa própria.

Quanto a Prodi, na segunda fase do debate pareceu mais cansado, fato de que se aproveitou Berlusconi para criticar a política tradicional das esquerdas européias, que dão prioridade a uma forte taxação para financiar o desenvolvimento. Prodi retrucou dizendo que só considera alguém muito rico em condição de ser taxado (caso de Berlusconi). "Os que controlam muitos milhões de euros e não os que possuem bens entre 1 milhão e 2 milhões." Berlusconi disse que seu adversário fala isso, mas pensa exatamente o contrário.

O Iraque não ficou de fora do debate: Prodi disse que pretende retirar as tropas italianas do país do Golfo Pérsico "o mais cedo possível".