Título: Sem-terra depredam Cemig e PM reage
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Nacional, p. A13

Centenas de integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), com apoio de outras entidades, entraram ontem em confronto com a Polícia Militar e depredaram o hall de entrada da sede da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), em Belo Horizonte. O ato de vandalismo, conforme as lideranças dos movimentos, foi realizado em protesto contra o preço das tarifas de energia elétrica e a realização da reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), aberta oficialmente ontem, na capital mineira.

Outro confronto envolvendo manifestantes e a PM ocorreu na Praça Sete, no centro, a poucos quarteirões da solenidade de abertura do evento, que reúne ministros e chefes de Estado.

Os militantes do MST, do MAB, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) - que integram a Via Campesina em Minas -, sindicalistas e estudantes seguiam em marcha para a região central para se juntar aos outros manifestantes. Por volta das 9h50, o carro de som parou em frente à sede da Cemig e eles passaram a gritar palavras de ordem.

Os manifestantes invadiram o prédio, quebraram as portas de vidro da entrada e destruíram computadores, placas, cadeiras e telefones da recepção. Conforme a empresa, os vigilantes foram agredidos. Com bandeiras e cartazes do MST e do MAB, os militantes ainda ameaçaram a integridade física de empregados e visitantes, segundo a Cemig.

Os invasores ficaram no prédio por cerca de 30 minutos, até serem retirados pelo batalhão de choque da PM. Eles acusaram os policiais de utilizar bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes e balas de borracha na dispersão da manifestação.

Na Praça Sete, o confronto entre PMs e manifestantes começou quando a polícia exigiu que os manifestantes (PSTU, Liga Operária, Conlutas) entregassem os mastros das bandeiras. Os quarteirões próximos ao Palácio das Artes, onde foi realizada a solenidade da reunião anual do BID, foram isolados pela PM.

Pelo menos nove pessoas foram presas nos dois incidentes e várias ficaram feridas. Segundo a PM, 12 militares sofreram ferimentos.

Na invasão da Cemig, o MST culpou a PM e os seguranças da companhia pelas cenas de violência. "Desde que chegamos aqui houve muita repressão. Íamos entregar uma carta para os governadores do BID", reclamou um dos coordenadores regionais do MST, Mauro Lemes.

Segundo o tenente-coronel Alexandre Salles, chefe da assessoria de comunicação da PM-MG, os efetivos policiais estavam nos locais para garantir a ordem e o direito de manifestação, mas o confronto foi provocado pelos militantes. "A Polícia Militar agiu com a força necessária." Em nota, a Cemig repudiou o "ato insano e a violência desmedida e injustificável empregada pelos manifestantes".