Título: Brasil perdeu a melhor hora, admite Furlan
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2006, Economia & Negócios, p. B3

Ministro lamenta que País tenha deixado escapar uma chance de impulsionar o crescimento da economia

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, que integra a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na visita ao Reino Unido, admitiu ontem que o Brasil perdeu o melhor momento para impulsionar o crescimento da economia. "É verdade", comentou o ministro, ao ser indagado pelos jornalistas. Otimista, porém, acrescentou: "A melhor janela talvez tenha passado, mas ainda tem janela aberta."

Para Furlan, embora o crescimento do País tenha sido de apenas 2,3% no ano passado, grande parte das empresas apresentou números melhores. "Estão no Brasil 400 das 500 maiores empresas. O balanço delas no Brasil foi várias vezes maior que 2,3% e mostra que a grande maioria teve excelentes resultados. Portanto, é aquela velha história: na média, a temperatura é boa", afirmou.

O ministro voltou a demonstrar insatisfação com a baixa taxa de câmbio, que vem trazendo dificuldades a vários setores exportadores, mas descartou a possibilidade da adoção de medidas mais radicais. "Não tem uma solução única para o câmbio. É preciso um conjunto de medidas", disse Furlan, destacando, como exemplo, a redução de alíquotas de importação de vários produtos, anunciada ontem pelo governo.

"Essas medidas vão dar competitividade à produção brasileira porque vários desses produtos que tiveram as tarifas reduzidas são insumos de produção. Então, eles ajudam a cadeia produtiva", disse. Para ele, o problema é que a taxa de câmbio vem apresentando "uma flutuação unidirecional" - ou seja, sempre no sentido da valorização do real, explicou.

Sem fazer previsões sobre as taxa de crescimento deste ano, Furlan disse que o governo quer estimular investimentos e, para isso, estuda, entre outras medidas, a reestruturação do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), com novo sistema de gestão, para atrair a indústria de componentes.

Ele destacou ainda que o governo pretende reduzir impostos sobre bens de produção, dando como exemplo, a concessão do benefício a veículos de carga. Segundo Furlan, o governo quer também apresentar "um conjunto de medidas de financiamentos e impostos que teria impacto positivo na logística no meio ambiente e na segurança nas estradas".

PORTOS

Segundo ele, outra grande preocupação do governo é com a questão dos portos - "um nó que ainda não está desatado". Como mostrou reportagem publicada pelo Estado domingo, a maioria dos 64 projetos definidos há um ano e meio pelo governo para modernizar os portos brasileiros está em ritmo lento. O ministro salientou que vai fazer uma peregrinação pelos portos com o presidente Lula. "O presidente Lula já marcou ir a São Francisco do Sul, Itajaí, Vitória para empurrar as obras, porque o dinheiro está disponível desde o fim de 2004 e as obras ainda não foram feitas."