Título: Próximo ciclo solar poderá ser 50% mais forte que o último
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2006, Vida&, p. A24

Previsão foi feita com novo modelo computacional criado no EUA

A cada 11 anos, o Sol inverte seu campo magnético, produzindo um ciclo marcado por labaredas solares, manchas solares e tempestades magnéticas que podem ter efeitos negativos sobre a Terra. Segundo as últimas previsões científicas, o próximo desses ciclos começará com um ano de atraso - no fim de 2007 ou no início de 2008 - e será 30% a 50% mais forte do que o último.

A previsão, baseada num novo modelo de computador desenvolvido no Centro Nacional para Pesquisas Atmosféricas, nos EUA, poderá possibilitar uma melhor preparação para as tempestades solares, segundo os cientistas. Isso é importante porque as tempestades podem afetar a órbita dos satélites, atrapalhar as telecomunicações e derrubar redes de energia elétrica.

Num entrevista coletiva organizada pela Nasa, cientistas disseram que, numa série de rodadas de testes, o novo modelo simulou a força dos últimos oito ciclos solares com mais de 98% de precisão. "Pela primeira vez, podemos prever a força de um ciclo solar de 11 anos", disse Mausumi Dikpati, chefe da equipe que criou o modelo.

Dikpati disse que, diferentemente dos modelos anteriores, este foi baseado na física, não em registros históricos e simulações. O modelo inclui anos de dados sobre o movimento interior do plasma e dos campos magnéticos do Sol, coletados pelo telescópio espacial Soho (sigla de Observatório Solar e Heliosférico), operado pela Nasa e pela Agência Espacial Européia.

As modificações do ciclo solar banham a atmosfera da Terra em radiação e partículas que não somente produzem auroras coloridas mas também causam surtos de elevação na grade de energia elétrica, pane nos equipamentos eletrônicos dos satélites que controlam os sistemas de GPS e aumento da exposição à radiação dos astronautas no espaço.

A última vez que a estrela atingiu um pico foi em 2001, e o Sol está agora num período de quietude. Segundo o novo modelo, o próximo ciclo começará no fim de 2007 ou início de 2008 e atingirá seu auge em torno de 2012.

Richard Behnke, diretor de Pesquisa da Atmosfera Superior da Fundação Nacional de Ciência dos EUA, que patrocinou o trabalho, disse que o modelo é importante porque poderá dar um aviso antecipado sobre comportamentos solares que possam causar problemas na Terra. Segundo Behnke, o próximo passo é desenvolver modelos que possam prever tempestades solares individuais de forma que as pessoas tomem precauções.

O modelo baseia-se em dados do Soho utilizando uma nova técnica denominada heliossismologia. Como um médico que usa um ultra-som para olhar dentro de um paciente, o modelo rastreia as ondas sonoras que reverberam dentro do Sol para revelar detalhes sobre seu interior, incluindo grandes fluxos de plasma.

Compreender esses fluxos é essencial para prever o ciclo de atividade solar, segundo o trabalho publicado na Geophysical Research Letters. Dados sobre esses padrões de fluxo foram fundamentais para a exatidão do novo modelo, disse Dikpati.

CLIMA

As previsões já estão na pauta de debates do 11º Simpósio Internacional sobre Sol, Ciência Espacial e Clima, que ocorre nesta semana no Rio. O principal tema do evento é a influência do Sol sobre o clima da Terra.