Título: Brasil é 27º em ranking de patentes
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2006, Vida&, p. A23

País registrou apenas 283 em 2005; China apresentou o crescimento de maior destaque entre 128 nações

O Brasil está distante de Rússia, Índia e China, os outros membros do bloco de países emergentes conhecido pela sigla BRIC, no campo de pesquisa e inovação. Dados recém-divulgados pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) indicam que o Brasil depositou menos patentes internacionais do que as outras três nações em 2005.

Segundo o levantamento, feito com 128 países, foram 283 pedidos feitos por brasileiros no ano passado, um crescimento de apenas 0,7% em relação a 2004 - na prática, foram apenas dois pedidos a mais. A Rússia depositou 500 patentes na OMPI. O sistema permite que um único registro seja usado em diversos países.

O crescimento mais expressivo, não apenas dentro do BRIC mas entre todos os membros da OMPI, foi da China, com impressionantes 43,7%: passou de 1.706 para 2.452 em apenas um ano, desbancando o Canadá da 10ª posição na lista geral. A Índia depositou 648 pedidos, uma queda em comparação com os 723 de 2004.

Os dois países são a maior promessa do bloco, vistos como potências econômicas em meados do século - a previsão é de que a China cresça numa média anual de 7% a 10% pelos próximos 20 anos, ultrapassando os Estados Unidos em 2050 como potência global. O investimento em pesquisa e desenvolvimento de produtos é parte do processo de enriquecimento, e instituições e empresas chinesas são pressionadas a registrar patentes internacionalmente.

"A China tem um governo autoritário, que decide e faz a produção funcionar ao criar institutos e fábricas", diz o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Eduardo Krieger. "Espero que, no Brasil, não precisemos ter um novo governo autoritário para isso."

SEM SINAPSE

A falta de conexão entre produção científica brasileira e pesquisa e desenvolvimento na indústria é um problema identificado há pelo menos 20 anos. Sinais concretos de solução, contudo, só começaram a aparecer de pouco tempo para cá, com a Lei de Inovação, de 2004, e a MP do Bem, do ano passado, desonerando impostos (leia ao lado).

São políticas que podem aumentar o diâmetro do gargalo e transferir a maior parte do contingente de cérebros das universidades e instituições públicas para as empresas. Mas exigem tempo e comprometimento de academia, governo e indústria por médio e longo prazos.

A questão que se coloca é se o Brasil tem tempo para colher os frutos do esforço tardio. Krieger é sucinto: "Sem investimento, não criamos riqueza." Enquanto isso, a China se movimenta com velocidade.

Mesmo entre os países em desenvolvimento, o Brasil está na modesta posição de 6º colocado, atrás de Coréia do Sul, China, Índia, África do Sul e Cingapura (veja quadro ao lado). Apenas em uma divisão o Brasil se destaca: é o que mais deposita patentes entre os países latino-americanos, na frente do México.

PESQUISA NA INDÚSTRIA

Um dos principais sintomas de que há pouca pesquisa dentro da indústria é a divisão da mão-de-obra qualificada, com ensino superior, voltada para desenvolvimento. "No Brasil, há um engano quando se supõe que lugar da pesquisa é na universidade. Em países industrializados, mais da metade está na indústria, que gera 90% das patentes", explica o diretor-científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz.

Assim acontece em todos os grandes países produtores de patentes: na Coréia do Sul, por exemplo, dos 124 mil profissionais com esse perfil, mais de 60% estão na indústria. No Brasil, o índice é de cerca de 18%.

A mesma Coréia mostra outro fator que a coloca em 6º lugar na lista dos maiores, com 4.747 pedidos em 2005. A maioria de quem está nas empresas, 64%, tem mestrado ou doutorado. Por aqui, são 14%.