Título: Cheney: Irã sofrerá conseqüências
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2006, Internacional, p. A16

Estados Unidos exigem que o governo iraniano abandone programa nuclear e não aceitam soluções alternativas

Os EUA aumentaram ontem a pressão sobre o programa nuclear iraniano, deixando claro que se mantêm irredutíveis em sua exigência de que o Irã interrompa as atividades relacionadas ao enriquecimento de urânio e não estão dispostos a aceitar soluções alternativas.

A posição americana foi enfatizada pela secretária de Estado, Condoleezza Rice, e o vice-presidente Dick Cheney, um dia depois de surgirem no âmbito da AIEA informações sobre uma proposta informal dos russos. O conselho diretor da AIEA (a junta de governadores, formada por 35 países) está reunido em Viena para analisar a crise iraniana. O esperado relatório do diretor da AIEA, Mohamed el-Baradei, sobre a cooperação iraniana ainda não foi apresentado ao plenário, o que deve ocorrer hoje.

Esse relatório será depois enviado ao Conselho de Segurança da ONU, conforme decisão de reunião de emergência da AIEA no início de fevereiro, que exigiu do Irã o congelamento de todas as atividades relacionadas ao enriquecimento de urânio.

"O regime iraniano precisa saber que, se continuar seguindo no atual caminho, a comunidade internacional está preparada para impor conseqüências graves", disse Cheney num discurso da reunião anual de uma entidade lobista pró-Israel, em Washington. Cheney não detalhou quais seriam essas "conseqüências", mas a previsão é que o Irã seja levado ao Conselho de Segurança, órgão com poder de aplicar sanções econômicas ou diplomáticas. Não se espera, porém, uma atitude do CS na atual conjuntura.

O mais provável é que, se não houver uma solução no âmbito da AIEA nos próximos dias, o CS aprove numa primeira etapa apenas uma resolução de advertência ao Irã. A idéia russa apresentada informalmente na reunião em Viena seria permitir ao Irã enriquecer urânio em pequena escala, sob rigorosa supervisão da AIEA, e ao mesmo tempo impor ao país um período de sete a nove anos de congelamento dessas atividades em escala industrial.

Dessa maneira, sugeriram os russos, haveria como garantir que o Irã não iria ter condições de dominar tecnologia para a fabricação de armas atômicas. Como essa proposta foi rejeitada pelos EUA, Grã-Bretanha, Alemanha e França, a Rússia voltou atrás, disseram diplomatas em Viena, sob anonimato.

Em Washington, depois de se encontrar com Condoleezza, o chanceler russo, Serguei Lavrov, negou ontem que a Rússia tenha feito tal proposta. "Não existe nenhuma proposta nova para um acordo", disse Lavrov numa entrevista coletiva à imprensa, ao lado de Condoleezza. "Estudaremos a situação com base no relatório da AIEA que será levado ao Conselho de Segurança, tal como ficou combinado em fevereiro", continuou Lavrov. "Os russos não nos falaram sobre nenhuma proposta nova", complementou ela.

O plano inicial dos russos, com o qual europeus e americanos concordaram, era oferecer ao Irã a possibilidade de enriquecer o urânio de que necessitar em usinas em território russo. Assim, ficaria assegurado que esse minério seria purificado apenas em níveis baixos, suficiente apenas para usinas de energia elétrica (armamentos requerem urânio enriquecido em níveis elevados).

O Irã, por sua vez, apresentou uma proposta bem mais tímida do que a dos russos. Seu negociador-chefe em Viena, Ali Larijani, disse que o país está disposto apenas a suspender o enriquecimento do urânio em larga escala por um período de até dois anos, desde que possa continuar desenvolvendo pesquisas dessa tecnologia em pequena escala. "Investimos muito nisto", disse outro membro da delegação iraniana, Ali Asghar Soltanieh. A Rússia também quer evitar a todo custo que Teerã fabrique armas atômicas, mas, ao mesmo tempo, não quer prejudicar seus negócios com o Irã.