Título: Em MS, grupos ocupam fazenda e bloqueiam 4 rodovias
Autor: Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2006, Nacional, p. A15

Federação promete mais invasões; Incra reclama que não há razão para os protestos

Uma fazenda foi invadida e quatro rodovias foram bloqueadas em Mato Grosso do Sul por militantes de movimentos ligados à questão agrária. Segundo as entidades, o objetivo é pressionar por mais agilidade na reforma agrária. Ontem, a partir das 8 horas, membros da Federação da Agricultura Familiar (FAF) interditaram trechos das rodovias MS-156, MS-295, BR-163 e BR-463 complicando o tráfego em toda a região sul do Estado.

Os manifestantes interditavam os trechos mais movimentados das rodovias por uma hora e liberavam por 25 minutos. Segundo Paulo César de Souza, coordenador da FAF, também estão programadas invasões de áreas rurais e prédios públicos.

No domingo, 200 sem-terra ligados à Central Única dos Trabalhadores Rurais invadiram a Estância 4Fs, em Campo Grande. Os invasores estão acampados perto da propriedade há 4 anos. O coordenador da CUT-Rural, Antônio Castilho dos Santos, justificou a invasão: "Daqui para junho muita coisa vai acontecer. Se ficarmos de braços cruzados não sai nada porque é ano de Copa e eleição."

O MST, segundo seus coordenadores, não participou dos bloqueios de rodovias. Mas eles avisaram que pretendem organizar vários protestos ainda nesta semana, entre eles invasões de fazendas e prédios do Incra.

Para o superintendente do Incra, Luiz Carlos Bonelli, não há razão para protestar contra a demora na formação de assentamentos. "Nunca se assentaram tantas famílias em Mato Grosso do Sul como nestes três anos", garantiu. "Em 24 anos de história da reforma agrária no Estado foram assentadas 12 mil famílias. E de 2003 até agora, mais de 11 mil. Incorporamos em novas áreas de assentamento ao menos 10 mil famílias, sendo 2 mil de remanejamentos."

Em Ribeirão Preto, um grupo de cem mulheres do MST fez ontem manifestação de nove horas diante do prédio da Justiça Federal, como parte do 2006 Vermelho. "A manifestação integra a jornada nacional da luta do MST", disse a diretora estadual do MST, Kelli Mafort.

O principal objetivo, segundo ela, é pressionar pela efetivação da imissão de posse da Fazenda da Barra e sua transformação em assentamento. O juiz da 5ª Vara Federal, Nelson de Freitas Porfírio Júnior, informou ao grupo que enviou o processo ao Tribunal Regional Federal (TRF), em São Paulo, para analisar a quem cabe a competência para julgar o mérito, e a decisão sairá segunda-feira.

Há 450 famílias do MST na Fazenda da Barra e 100 famílias do Movimento da Libertação dos Sem-Terra. O governo federal desapropriou a área em dezembro de 2004 e o Incra avalia que a desapropriação deve custar R$ 24 milhões no máximo, mas os donos da propriedade pedem R$ 350 milhões.