Título: Brasil quer mais 7 usinas atômicas
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2006, Nacional, p. A12

Ministro Rezende espera aprovar plano este ano, incluindo retomada de Angra 3 e duas unidades no Nordeste

O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, contou ontem à BBC Brasil que o governo quer aprovar um plano para instalar até sete usinas nucleares no prazo de 15 anos. Ele disse esperar que o projeto, que prevê a construção de duas usinas no Nordeste, seja aprovado "em todas as instâncias até o final do primeiro semestre deste ano".

O Plano Nacional de Energia Nuclear, explicou o ministro, propõe a instalação de sete usinas. "Esse plano começa com a decisão de retomar a construção de Angra 3 e fazer um escalonamento para que a cada dois, três anos, seja implantada uma nova usina. É um plano para 10, 15 anos." Com isso, disse ele, o governo pretende ampliar a participação da energia nuclear na matriz energética do País, que hoje está entre 1% e 2%. "O ideal é que fosse mais próxima de 5%. Não defendo a idéia de que seja prioridade nº 1. Estou defendendo alguma prioridade. A energia nuclear tem de ser considerada e colocada na matriz energética brasileira. Ela não pode mais ser encarada como patinho feio."

Segundo Rezende, os planos incluem a construção de duas usinas nucleares às margens do Rio São Francisco, cujas águas passam por hidrelétricas que abastecem de energia o Nordeste. "Não dá para fazer nenhuma outra hidrelétrica no São Francisco, mas a região vai continuar crescendo, precisando de energia. As águas do rio podem ser usadas para refrigerar um sistema de usinas nucleares de menor porte. É um plano perfeitamente viável", argumentou.

Ele ressaltou que a proposta precisa ser aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética, do qual participam vários ministérios, pelo presidente da República e pelo Congresso. Rezende admitiu que o tema causará debate. "Polêmica não vai faltar. Mas isso era tabu até um tempo atrás e, cada vez mais, há a percepção de que a energia nuclear é uma fonte viável." Acrescentou que o "renascimento" da área nuclear no mundo, com a construção de novas usinas, vai baratear o custo da tecnologia.

Em sua avaliação, as hidrelétricas continuarão sendo a principal fonte energética do País, mas ele aponta algumas desvantagens em relação à energia nuclear. "A energia hidrelétrica está ficando cada vez mais cara. Outra desvantagem é que a fonte, geralmente, está distante dos centros consumidores. Já as usinas nucleares podem ser construídas perto dos grandes centros."

Na entrevista, o ministro contou que deve ser em abril a inauguração oficial da produção de urânio em escala industrial na fábrica de Resende (RJ). Segundo ele, em 2010 o urânio enriquecido produzido pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB) será suficiente para suprir 60% das necessidades de Angra 1 e 2. "O que foi adiada é a inauguração formal pelo presidente da República. A produção já começou, porém não em grande quantidade", explicou.