Título: Aécio é maior prejudicado se novo arranjo tiver sucesso
Autor: Carlos Marchi, Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2006, Nacional, p. A4

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas faltou combinar a "fórmula paulista" com o governador Aécio Neves. Se Alckmin vencer a eleição presidencial e Serra, a estadual, todo o PSDB estará feliz, menos o governador mineiro, que ganha, de uma tacada só, dois fortíssimos concorrentes na disputa presidencial de 2010.

Se Serra fosse o candidato presidencial tucano agora, o caminho de Aécio estaria desimpedido, porque o prefeito paulistano lhe prometeu que, se eleito presidente, não concorreria a um novo mandato e, além disso, patrocinaria o fim do instituto da reeleição.

Para avalizar a promessa, Serra pôs na mesa dois argumentos: ele sempre se posicionou contra a reeleição; além disso, pediu a um de seus aliados mais fiéis, o deputado Jutahy Júnior (BA), que apresentasse, em março de 2004, uma emenda constitucional extinguindo a reeleição. A emenda, que hoje hiberna na fila da Câmara, seria imediatamente reativada se Serra fosse eleito.

O fim da reeleição também interessa vivamente ao PT, em 2010 Lula não poderá concorrer, se vencer agora; mas se um candidato do PSDB ganhar agora, estaria imobilizado para concorrer na eleição seguinte. Aécio se retirou da disputa de 2006 num gesto de boa vontade que sublinha o alerta: em 2010 a vez é dele. Para entrar firme na campanha agora, ele quer garantia de pista livre na próxima eleição.

A irritação do mineiro com a "fórmula paulista" ganha um tom de advertência - o candidato tucano, seja quem for, não se elege presidente sem uma votação maciça em Minas Gerais. E uma votação maciça em Minas depende do grande eleitor mineiro - o próprio Aécio.

Em 2002 Serra sofreu com esse fenômeno. Candidato a governador, Aécio fez sua campanha e abandonou o candidato presidencial: elegeu-se no primeiro turno com 57,68% dos votos e Serra ficou com minguados 22,86% (Lula teve 53,01% no Estado).