Título: Decisão volta às mãos do partido
Autor: Carlos Marchi, Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2006, Nacional, p. A4

Sem unanimidade em torno de seu nome, Serra devolve tarefa de escolher à cúpula tucana

O prefeito de São Paulo, José Serra, devolveu à direção do PSDB o direito de definir o candidato à presidência da República e negou-se a assumir a sua própria indicação, como desejavam as principais lideranças tucanas. Serra havia deixado claro que só aceitaria ser candidato se o partido aprovasse, de forma unânime, o lançamento de seu nome. Ele revelou a amigos que está preocupado mesmo é com a disputa pelo governo de São Paulo, onde uma derrota seria desastrosa para o PSDB.

"O partido perderia tudo", admitiu ele a um interlocutor com quem conversou em sua viagem a Buenos Aires. As incertezas do partido em São Paulo tornaram-se o grande dilema dos tucanos e abalaram a confiança de Serra na candidatura presidencial. Com sua indecisão, o PSDB resolveu definir o nome até domingo e abriu uma avenida para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já comentou com amigos que o PSDB tem boas chances de vitória com Alckmin, embora ressalve que, com ele, as possibilidades de uma vitória sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seriam inferiores às que as pesquisas apontam para Serra.

A grande vantagem da candidatura de Alckmin é que, em caso de derrota, as perdas do partido seriam mínimas - afinal, Alckmin está mesmo saindo do governo de São Paulo - e Serra continuaria preservado como um grande nome do partido para as eleições de 2010.

REVIRAVOLTA

"O PSDB descobriu que pode perder em qualquer outro Estado, mas não pode ficar fraco em São Paulo", resumiu um integrante da Executiva Nacional para explicar o empenho de algumas áreas em convencer Serra a se candidatar ao governo paulista. Essa constatação - somada ao afastamento do triunvirato Tasso-FHC-Aécio, que coordenava a escolha - acabou empurrando o impasse para uma dobradinha formada pelos dois pré-candidatos.

Até aqui, Alckmin não participou de nenhuma conversa com Serra sobre a corrida para o governo paulista, segundo interlocutores políticos do governador, nem estava informado sobre a alternativa de usar a força eleitoral de Serra para lançá-lo ao governo estadual - o que certamente ajudaria Alckmin na disputa presidencial.

Ontem, emissários de Alckmin disseram que o governador apoiaria com empenho a candidatura de Serra ao governo de São Paulo e trabalharia para acalmar os cinco pré-candidatos já lançados. "Se o Serra sair candidato ao governo será o melhor dos mundos para todos, inclusive para aqueles que já colocaram suas pré-candidaturas na mesa", comentou ontem um aliado de Alckmin, referindo-se a Paulo Renato, Alberto Goldman, Aloysio Nunes Ferreira, José Aníbal e Emanuel Fernandes.

Ontem, em Goiânia, durante a comemoração do aniversário do governador Marconi Perillo, de Goiás, foram feitas sondagens entre os tucanos presentes para a candidatura presidencial. Deu Alckmin. Segundo um dirigente do partido, o mesmo aconteceu no evento do 5.º aniversário de morte do governador Mário Covas, na sala São Paulo, anteontem.