Título: PSDB faz pesquisa para avaliar chance de Serra na disputa estadual
Autor: Carlos Marchi, Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2006, Nacional, p. A4

Prefeito comentou com mais de um amigo que tem sido pressionado a aceitar a candidatura a governador

Para checar a receptividade dos eleitores paulistas a uma candidatura Serra ao governo paulista, aliados do prefeito encomendaram uma pesquisa telefônica cujo resultado seria entregue ontem. Nos últimos dias, o prefeito José Serra comentou com mais de um amigo que tem sido fortemente pressionado a aceitar a candidatura ao governo do Estado e não despreza essa possibilidade.

O prefeito destacou dois argumentos que considerou tentadores: o primeiro é que, do governo do Estado, manteria uma posição forte sobre a Prefeitura; o segundo é que deixar a Prefeitura para tentar o governo estadual não seria interpretado pelos paulistas como "uma traição" - afinal, ele continuaria em São Paulo. A opção praticamente sela o nome do governador Geraldo Alckmin para a disputa presidencial.

Um dos principais patrocinadores da candidatura é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que semeou a idéia no PSDB paulista - a matriz do tucanato - depois que a uma pesquisa Ibope mostrou desempenho pífio dos pré-candidatos tucanos ao Palácio dos Bandeirantes e uma boa performance da pré-candidata Marta Suplicy, do PT. Depois de poucas conversas, a idéia de Fernando Henrique ganhou fôlego próprio, movida pelo mote "não podemos perder São Paulo".

"FÓRMULA PAULISTA"

Domingo, numa reunião no sítio do secretário municipal Andrea Matarazzo, em Jundiaí, Fernando Henrique, o senador Tasso Jereissati (CE), presidente nacional do PSDB e o próprio Serra conversaram longamente sobre a "fórmula paulista". Na conversa, Serra não deu uma resposta definitiva, mas não foi hostil ao cenário traçado por Fernando Henrique.

Esta semana, o triunvirato que coordenava a escolha do candidato tucano - Fernando Henrique, Tasso e mais o governador de Minas, Aécio Neves - não apenas transferiu a decisão para os dois pré-candidatos, como também cobrou deles que preencham uma agenda de três pontos. O primeiro é que os dois antigos litigantes devem alcançar um acordo sem nenhuma aresta; o segundo é que eles devem, depois, costurar as fissuras da disputa e recompor a unidade partidária de forma irretocável, e o terceiro é que esse acordo não deve perder de vista a competitividade do partido em outubro, em São Paulo e no País.

O triunvirato sentiu-se contestado em seu trabalho de coordenação, chegando a se irritar com os dois pré-candidatos. Com Alckmin, por teimar com sua pré-candidatura sem exibir evidências claras de que tem empuxo eleitoral para derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; e com Serra, pela hesitação em acatar as definições que o triunvirato encaminhava.

A irritação foi tanta que os três resolveram sair de cena no carnaval. Fernando Henrique deixou-se ficar mais de uma semana em Trancoso (BA); Tasso internou-se em sua fazenda, na serra do Baturité (CE) e nem compareceu ao evento que rememorou os cinco anos de morte do governador Mário Covas, seu dileto amigo, anteontem, mesmo tendo vindo a São Paulo; já Aécio, o mais irritado, pegou a filha e foi se exilar numa estação de esqui do Canadá e só regressa amanhã a Belo Horizonte.