Título: Mercosul vai oferecer abertura à UE
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

Brasil propõe liberalizar o mercado de carros se Europa abrir espaço para os produtos agrícolas sul-americanos

O Mercosul está disposto a apresentar hoje uma proposta para acelerar a liberalização do mercado automobilístico da região se a União Européia fizer movimentos significativos para abrir seu mercado para os produtos agrícolas sul-americanos. Os dois blocos voltam a se reunir após mais de um ano sem um debate sequer sobre as ofertas de liberalização que estão sobre a mesa.

Segundo o embaixador Régis Arslanian, chefe da delegação brasileira, o Mercosul também está preparado para fazer "movimentos" na abertura do setor de serviços, área de interesse dos europeus. Os setores que poderiam ser liberalizadas são os financeiros e marítimos. "Estamos trazendo elementos concretos para fazer com que as negociações avancem."

Se o Brasil chega pronto para negociar um acordo, a UE não mostra o mesmo entusiasmo. A comissária de Relações Exteriores do bloco, Benita Waldner, admite que a própria data indicada pelos europeus para a conclusão do processo, maio, não será atingida. "Não concluímos um acordo na Organização Mundial do Comércio (OMC) e, por isso, não será fácil e nem podemos dizer se teremos um resultado positivo."

A insistência da Europa em esperar por um entendimento na OMC ocorre porque suas próprias propostas ao Mercosul são condicionadas ao que terão de oferecer no âmbito multilateral.

Arslanian ainda se disse preocupado diante dos comentários das autoridades européias, que já indicavam que a prioridade do bloco agora é saber o que ocorrerá nas negociações da OMC antes de definir o que oferecerá ao Mercosul. "Para nós, esse acordo é uma prioridade. Decidimos em novembro que faríamos avanços e, no Mercosul, trabalhamos os últimos meses para isso."

O embaixador lembra que passou semanas articulando a nova proposta entre os setores no Brasil e com demais parceiros do Mercosul. "Estamos prontos para sinalizar a possibilidade de movimentos reais. Viemos com esse espírito."

Segundo ele, uma das possibilidades que o Mercosul poderá apresentar é acelerar a abertura total do mercado da região para os veículos europeus. Pela proposta atual, o setor chegaria a uma tarifa zero em 18 anos, o que não agrada aos europeus.

Arslanian não quis citar o novo prazo antes de informá-lo aos europeus. "É um setor sensível para nós e representa uma parcela importante do comércio entre os dois blocos." O setor é hoje o que tem as tarifas mais altas de importação, com taxas de até 35%, e também um dos que mais pressionam o governo para que as concessões não sejam excessivas.

Arslanian se queixa que não há qualquer sinal de que a UE determinaria uma data para a livre circulação de bens agrícolas. "Não falam nem em 300 anos para a liberalização." Segundo ele, os sinais do Mercosul só serão dados se o Brasil perceber que os europeus também farão movimentos significativos. "Tudo tem um preço. Só vamos nos mover se houver sinais palpáveis em agricultura."