Título: Não tem motivo para eu ser ouvido, diz Bastos
Autor: Felipe Werneck
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Nacional, p. A6

"Eu não tenho nenhum motivo para ser ouvido." A frase é do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, quando indagado sobre a possibilidade de depor na investigação que apura a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo. "Não se aponta nenhum ato. O que existe é que nós estamos investigando, os fatos estão praticamente esclarecidos, vão ser esclarecidos", disse ele, em entrevista no topo da Favela do Vidigal, no Rio, ontem à tarde.

Segundo o ministro, seus dois assessores acusados de participar de reunião na qual suspeita-se que o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, teria revelado a quebra de sigilo "não são testemunhas de nenhuma irregularidade". "Eles simplesmente foram lá e receberam um pedido que não quiseram atender", afirmou. "O fato é que efetivamente não houve nenhuma demora, nenhum deslize e nenhuma lentidão da Polícia Federal nem do governo federal." Bastos disse que os assessores foram chamados por Palocci, que "queria que fosse investigada a possibilidade de o caseiro ter recebido um suborno". "Só isso. Eles não assistiram nenhuma quebra de sigilo, nenhum vazamento de sigilo. A PF está desvendando o inquérito com toda a liberdade, eles foram depor espontaneamente."

Sobre a declaração do presidente da OAB, Roberto Busato, de que o suposto envolvimento de assessores deve ser investigado, Bastos afirmou: "Não tenho nenhum comentário a não ser dizer que recebi recado de um ex-presidente da OAB dizendo que o presidente disse a ele que foi mal-interpretado."

O ministro enumerou procedimentos para afirmar que o governo "cumpriu a sua obrigação". "Eu vou explicar: o governo federal, por meu intermédio, tão logo teve notícia da publicação de uma revista em que se verificava que havia sido quebrado o sigilo do caseiro e divulgado esse sigilo, isso aconteceu no sábado (dia 18), imediatamente no domingo pedi a Paulo Lacerda (diretor-geral da PF) que abrisse inquérito policial com toda a liberdade, com toda a amplitude para investigar essa questão, o que aconteceu na segunda-feira."

Segundo ele, a PF começou a investigar e, na terça-feira, solicitou por escrito a presença do Ministério Público Federal para acompanhar o inquérito.

"A investigação foi feita no tempo absolutamente compatível com a dificuldade, mas um tempo muito rápido, porque em uma semana praticamente 80% da questão se encontra resolvida, pelo menos em termos de materialidade e de autoria", disse. "O governo cumpriu a sua obrigação desde o primeiro momento em que se soube da quebra e do vazamento do sigilo."

O delegado Paulo Lacerda afirmou não ver necessidade de convocação de Bastos para depor. "A PF está fazendo uma apuração rigorosa e transparente. Tudo que surgir será apurado. Agora, nós não podemos partir para ilações e já tirar conclusões sobre esta ou aquela autoridade", disse ele, que é subordinado a Bastos.