Título: Lula nega estar só no poder em dia de posse
Autor: Leonencio Nossa e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Nacional, p. A7

Ao dar posse ontem a nove ministros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou paralisia na máquina administrativa e viver a solidão do poder. Em discurso de 43 minutos, parte de improviso, ele comparou o jogo político neste ano à Copa do Mundo, sugerindo semelhança entre os desconhecidos secretários-executivos que vão chefiar pastas importantes no seu governo aos jogadores milionários e famosos da Seleção Brasileira.

"A máquina está andando, o que precisa é colocar mais lenha na caldeira para ela andar mais rapidamente, pois temos muitos projetos", discursou Lula. "Não haverá bola atrasada para o goleiro, vamos jogar para frente, no ataque."

Sem citar adversários, o presidente afirmou que "a disputa neste país não é fácil", pediu aos ministros "pé no chão, muita humildade e coragem de brigar". E prosseguiu: "O jogo que nós temos de enfrentar é mais ou menos igual à Copa do Mundo: não adianta dizer que o Brasil é a melhor seleção, teoricamente é, não adianta dizer que tem os melhores jogadores, teoricamente tem."

Lula disse que os novos colaboradores terão de enfrentar a "simpatia" da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a "gerente" do governo. E rasgou elogios aos ministros que entregaram seus postos para disputar as eleições, como o vice-presidente José Alencar, que deixou o cargo de ministro da Defesa para Waldir Pires, e Jaques Wagner, candidato ao governo da Bahia, substituído na Secretaria de Relações Institucionais por Tarso Genro.

No discurso, Lula citou o ex-ministro José Dirceu - que teve o mandato cassado por acusação de chefiar o esquema do mensalão. Fez a citação ao dizer a Tarso que o "caminho está meio asfaltado", referindo-se ao trabalho de articulação política com o Congresso. "Só peço a Deus que o companheiro (Tarso) faça o que você (Wagner) fez", disse. "A trilha foi aberta num primeiro momento pelo José Dirceu, depois pelo Aldo."

Lula não fez referências diretas aos escândalos que derrubaram Dirceu nem à denúncia do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, que abateu Antonio Palocci da Fazenda. Fez, sim, críticas à imprensa, que não estaria dando o destaque devido ao trabalho de investigação de contas públicas feito pela Controladoria-Geral.

POSSE Também tomaram posse ontem Orlando Silva (Esporte), no lugar de Agnelo Queiroz, Paulo Sérgio de Oliveira Passos (Transportes), substituto de Alfredo Nascimento, e Pedro Brito (Integração Nacional), no cargo de Ciro Gomes.

Quatro outros secretários-executivos assumiram interinamente, enquanto Lula não acerta as trocas com partidos da base aliada. José Agenor Álvares da Silva responderá interinamente pela Saúde, no lugar de Saraiva Filipe; Jorge Hage será o controlador-geral da União, com a mudança de Waldir Pires para a Defesa; Altemir Gregolin ficará temporariamente na Secretaria da Pesca, que era comandada por José Fritsch; e Guilherme Cassel assumirá o Desenvolvimento Agrário.