Título: 'O texto está certo. Diante dos fatos, não há como resistir'
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Nacional, p. A8

Depois de quase dez meses de investigações, o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), prepara-se para enfrentar sua última batalha na comissão: ver o seu relatório com 1.828 páginas - que começa a ser discutido hoje - aprovado. Convicto de que fez um bom trabalho, Serraglio defende seu relatório com unhas e dentes e rebate as críticas a eventuais erros do texto. Argumenta que o governo corre o risco de sair ainda mais desgastado do escândalo do mensalão, caso a CPI termine sem a aprovação do relatório final.

Como o sr. vê as mudanças propostas pelo PT ao seu texto? Acho natural. Só faltava eles concordarem (risos). É o direito de espernear e de não querer o relatório como está. Agora como eu fiz, o relatório está certo. Diante dos fatos, não há como resistir. A verdade sempre vem à tona. Não adianta esconder nada.

O sr. pretende fazer alterações no seu relatório e atender a reivindicações do PT? Os pedidos que o PT faz não procedem. Não tem sentido mudar a conceituação do mensalão como querem. O que eles querem é uma linguagem menos contundente. Eles querem, por exemplo, que eu coloque que o episódio de Minas, envolvendo o senador Eduardo Azeredo, foi a gênese de tudo. E isso não eu concordo.

A Brasil Telecom, que era controlada pelo banqueiro Daniel Dantas, foi apontada como uma das fontes do valerioduto. O sr. pedirá o indiciamento de Dantas? Não me oponho a pôr o nome dele. É uma coisa para ser pensada. Mas a rigor, não se pode culpar uma empresa por ela dar recursos.

O sr. vai retirar os pedidos de indiciamento dos ex-ministros Luiz Gushiken e José Dirceu? Acho difícil. Vou ter de estudar. Mas eles (os petistas) não leram o relatório e ficam dizendo que falta consistência técnica e jurídica para esses pedidos de indiciamento. Isso é discurso político. Se eles vierem com um discurso técnico, eu estudo a proposta. Onde possa haver equívocos, eu analiso.

Os parlamentares do seu partido, o PMDB, deverão votar contra o seu relatório. O PMDB votar contra é um paradoxo. Não acredito que votem contra até porque até onde sei o partido está sendo valorizado e se orgulha do meu trabalho.

O que o sr. acha da estratégia do governo de derrubar o relatório? É mais um desgaste para o governo que já está cheio de chagas. Se eu fosse governo, mandaria aprovar. Até porque tudo o que está no relatório já foi amplamente divulgado e falado. Mas querem expor-se ao pelourinho, tudo bem.

O sr. concorda em retirar a parte do relatório que fala sobre a ciência do presidente Lula a respeito do mensalão? Não mexo nisso. Coloquei com todas as letras que o Lula sabia do esquema. Não vou privilegiar ninguém. É a prova de que não quis agradar a gregos e troianos.

Osmar Serraglio, relator da CPI dos Correios