Título: Para Serraglio, relatório do PT prejudicará Lula
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2006, Nacional, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva corre o risco de sofrer um processo de impeachment caso o relatório paralelo do PT, que troca a tese do mensalão pela de caixa 2, seja aprovado. O alerta foi dado ontem pelo relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Ele garantiu que não pretende alterar o seu relatório final, apresentado na semana passada, que deverá ser votado até amanhã e corre o risco de ser derrubado pelos governistas.

"A tese do PT é que o dinheiro do valerioduto foi para o caixa 2. Se essa tese for verdadeira quer dizer que o dinheiro do caixa 2 serviu inclusive para pagar a campanha do presidente Lula. Afinal, o dinheiro do valerioduto foi em 2003 e 2004, quando o Lula já estava na Presidência", disse ontem. "Ou seja, se eu aceitar esse raciocínio (trocar mensalão por caixa 2), vou ter de pesar a caneta, porque caixa 2 foi usado para a campanha do presidente Lula. Se ficar caracterizado o caixa 2 no texto, qualquer partido poderá, com base nesse relatório, entrar com um pedido de impeachment."

Sem acordo e com o acirramento da disputa eleitoral, a expectativa é de que governo e oposição partam para o tudo ou nada e briguem voto a voto na CPI dos Correios.

Na prática, as divergências entre governo e oposição podem levar a CPI dos Correios a terminar em pizza, sem aprovação de um relatório final com as conclusões das investigações feitas nos últimos dez meses. O relatório paralelo que está sendo produzido pelo PT retira do texto a maioria dos 124 pedidos de indiciamento propostos por Serraglio. No relatório petista, os ex-ministros Luiz Gushiken e José Dirceu são poupados de ser indiciados.

Ao mesmo tempo, o texto governista estabelece que a origem do mensalão remonta ao governo do hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que recebeu dinheiro de caixa 2 em sua campanha à reeleição para o governo de Minas, em 1998, do empresário Marcos Valério.

"Indiciamento só com prova colhida e contundente", disse a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC). A estratégia de parte dos governistas que integram a CPI é derrubar o relatório de Serraglio e aprovar, em seu lugar, um substitutivo global, que está sendo produzido pelo PT e poupa o governo de envolvimento no escândalo do mensalão.

Pelos cálculos do Planalto, o governo teria uma maioria frágil para rejeitar o relatório de Serraglio. A avaliação, no entanto, é que o governo não dispõe de votos suficientes para aprovar o relatório paralelo em produção pelo PT. Afinal, parlamentares do PP, do PTB, do PL e do PMDB na comissão não estariam dispostos a aprovar o substitutivo petista, que aproveitará as partes do relatório de Serraglio que propõem a punição de dirigentes e políticos de seus partidos.

"É muito difícil conseguirmos compor uma maioria em torno do relatório do Osmar Serraglio. Mas é mais difícil ainda o governo conseguir apoio para aprovar o relatório do PT", observou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). "Não vamos cair no jogo de desmontar o relatório de Serraglio. Afinal, o relator foi bastante generoso com o presidente Lula", disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).