Título: Pela biodiversidade remunerada
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2006, Vida&, p. A17

O Brasil lançou sua ofensiva diplomática na COP 8 para garantir a negociação de um regime internacional de acesso e repartição de benefícios provenientes do uso da biodiversidade. A intenção é continuar o processo iniciado numa reunião em Granada, no início do ano, em que o Brasil articulou a redação de um marco legal favorável aos países em desenvolvimento e megadiversos. A iniciativa enfrenta oposição de países ricos, em especial da União Européia.

O regime regulamentaria o acesso aos recursos genéticos da biodiversidade (como plantas medicinais) e ao conhecimento tradicional ligado a esses recursos. Além disso, disciplinaria a repartição dos benefícios financeiros ou tecnológicos desse acesso.

A repartição de benefícios não agrada aos ricos, que vêem na biodiversidade dos pobres uma promissora fonte de recursos genéticos e conhecimento para suas indústrias - especialmente de fármacos e cosméticos. Segundo o secretário-executivo da convenção, Ahmed Djoghlaf, cerca de 70% dos medicamentos são derivados de plantas, e 90% deles se beneficiaram de conhecimento tradicional.

A briga em Curitiba será fazer o texto ser aceito como documento-base para a continuidade das negociações. "Já seria um avanço extraordinário", diz Hadil da Rocha Vianna, chefe da Divisão de Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores.