Título: Humala assusta mercados no Peru
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2006, Internacional, p. A16

Com retorno de candidato nacionalista à lideranca das pesquisas, bolsa peruana despenca e risco país sobe

REUTERS, EFE E AFP LIMA

O avanço do candidato nacionalista Ollanta Humala nas pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno das eleições presidenciais do dia 9 levou nervosismo aos mercados peruanos ontem. A bolsa de valores de Lima caiu 3,67% e as maiores perdas foram registradas nas ações de empresas do setor de mineração - que caíram 4,33%, registrando a maior baixa do ano. O risco país subiu 17 pontos e chegou a 212.

A tensão se explica pela plataforma política de Humala, que promete revisar os contratos com empresas estrangeiras que exploram os recursos naturais do país e ameaça nacionalizar o setor. Numa pesquisa realizada pelo instituto Apoyo e divulgada no domingo, Humala tem 32% das preferências, 4 pontos porcentuais acima da pesquisa anterior, divulgada uma semana antes. A candidata conservadora Lourdes Flores - que até a semana passada liderava as pesquisas - perdeu 3 pontos em relação à última sondagem e ficou com 28%. O ex-presidente Alan García manteve-se estável na faixa dos 21%.

Caso nenhum candidato alcance mais de 50% dos votos válidos no dia 9 de abril, o segundo turno - entre os dois mais votados - se realizará em maio.

De novo na dianteira, depois de passar dois meses em segundo lugar nas sondagens, Humala parece apostar na radicalização do seu discurso para conquistar os votos necessários e evitar o segundo turno. O candidato à vice-presidência em sua chapa e principal ideólogo da campanha, Gonzalo García, declarou em entrevista concedida ontem que a modernização do país passa necessariamente pela "nacionalização" - que ele define como "o controle do Estado de setores estratégicos, como o energético". "Me pergunto por que num país onde há total certeza de que a energia é um produto escasso, caro e determinante na competitividade da indústria e no bem-estar das pessoas, o Estado não pode tomar o controle desses setores", disse García.

O candidato a vice indica o modelo econômico brasileiro como o que o Peru deve seguir para desenvolver-se. "Nesse modelo há um equilíbrio entre o Estado e o mercado, que mantém a economia aberta ao fluxo do capital internacional. Como lá (no Brasil), também se abrirá um processo de conscientização das bases. Lula é um homem modesto e popular, como Humala."

Referências elogiosas a Lula e ao Brasil foram feitas ontem também por Lourdes Flores, mas como contraponto a críticas ao presidente venezuelano, Hugo Chávez - apontado pelos adversários de Humala como o verdadeiro patrocinador da candidatura do nacionalista. "O eixo que (Chávez) pretende criar é um retrocesso para a América Latina", disse Lourdes. "Tenho respeito e consideração por forças de esquerda que foram triunfando democraticamente e desenvolveram programas de governo responsáveis e sensatos, como o de Lula, que é um líder maduro."