Título: Devassa contra Nildo e Lulinha vira moeda de troca
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2006, Nacional, p. A4

Depois de PT requerer quebra de sigilo de caseiro, tucano pede acesso a dados de filho de Lula

Um novo confronto entre oposição e governo tomou conta ontem do plenário do Senado, culminando com uma guerra de pedidos de quebra de sigilo. Depois que o senador Tião Viana (PT-AC) requereu o fim do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, a oposição deu o troco. O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) apresentou requerimento pedindo a abertura de dados, dos últimos cinco anos, de Fábio Luiz Lula da Silva, filho do presidente Lula, e do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, que continua protegido por liminar do Supremo Tribunal Federal (STF).

"É um ato afrontoso, algo inadmissível", reagiu a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC). Segundo Antero, as últimas informações dão conta de que Fábio Luiz teria sido beneficiado com recursos da Telemar no valor de R$ 15 milhões - não de R$ 5 milhões, como fora revelado anteriormente - para a sua empresa Gamecorp. Ele quer, portanto, que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, forneça ao Senado toda a movimentação bancária e todas as operações autorizadas pelo Banco Central em favor de Fábio Luiz.

Além disso, o PSDB e o PFL decidiram pedir ao Ministério Público que investigue os responsáveis pela violação da conta de Francenildo, tendo como alvo o Banco Central, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. A oposição quer também a Polícia Federal no caso.

AUTORIZAÇÃO

"Vamos saber a verdade crua e nua", disse Tião, ao justificar a iniciativa - atendida pelo próprio caseiro. Ele se antecipou e avisou por telefone, ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que suas contas estão à disposição.

Na semana passada, Tião conseguiu impedir o depoimento de Francenildo à CPI dos Bingos, diante da liminar do STF. "Eles (os petistas) só arrombam porta aberta", disse o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), diante dos argumentos de que o sigilo do caseiro já havia sido violado.

Ao longo do dia, governo e oposição trocaram discursos agressivos no plenário, acirrando os ânimos. O PT tentou ampliar a discussão e dar uma nova versão ao episódio: houve apenas vazamento de informações, a exemplo do que ocorreu com pessoas do governo como Okamotto e o ex-ministro José Dirceu. "Os vazamentos têm sido recorrentes", disse Ideli. "Agora esse vazamento do caseiro virou o escândalo dos escândalos. Ou seja, para os outros é bom."

"Houve um crime, uma invasão, numa atitude fascista e de covardia", reagiu o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Os senadores do PSDB e do PFL foram contundentes em acusar o "Estado policial" criado pelo governo. "É um Estado policial neste país contra o qual devemos nos insurgir. O regime totalitário sempre começa do nada. E vai aos poucos fazendo cair os pilares da democracia", disse o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).