Título: PF vai apurar violação de sigilo do caseiro que denunciou Palocci
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2006, Nacional, p. A4

Delegado descarta hipótese de iniciativa ter sido da instituição; investigação se voltará para o governo e a Caixa

A Polícia Federal (PF) vai abrir inquérito para investigar a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, conhecido como Nildo, ocorrida na quinta-feira à noite. O delegado federal Wilson Damázio afirmou ontem que não há hipótese de a abertura dos dados ter sido feita pela PF e disse que, como já foi configurado crime, o inquérito pode ser aberto por iniciativa da própria polícia.

Nildo relatou ao Estado as visitas do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, à mansão alugada no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, pelo grupo de lobistas conhecidos como república de Ribeirão. Afirmou, ainda, ter visto dinheiro chegar em malas e ser repartido ali. Palocci sempre negou ter visitado a casa.

Na semana passada, a revista Época informou que Nildo havia recebido R$ 38 mil em menos de dois meses. O caseiro comprovou que recebeu dinheiro - segundo ele, R$ 25 mil - de seu pai biológico, que fez um acordo para não reconhecer a paternidade. A suspeita de que a violação de sigilo teria sido feita pela PF surgiu porque o extrato da conta de Nildo foi tirado às 20h58. Naquele dia, ele esteve na PF até as 21 horas.

"Será apurado e vamos levar até as últimas conseqüências, podem ter certeza", disse o delegado. A PF terá de investigar o governo e a Caixa Econômica Federal, onde o caseiro mantém conta bancária. O banco tem condições de dizer quando e onde o extrato foi impresso.

DEFESA

O inquérito foi pedido por Wlicio Chaveiro Nascimento, advogado do caseiro, por intermédio de notícia-crime no Ministério Público Federal. Na ação, o advogado pede que a Caixa e o Banco Central informem quem teve acesso aos dados bancários e a forma como as informações foram repassadas à revista.

Para o advogado, a reportagem da revista "deixou Francenildo em situação extremamente constrangedora e vexatória". "Ele foi obrigado a revelar questões de ordem estritamente particular, como a condição de filho bastardo de um empresário do Piauí, que efetivou os depósitos com o objetivo de não ser ajuizado em uma ação de investigação de paternidade", lembrou.

O delegado garante que a cópia do cartão bancário de Nildo foi feita em menos de três minutos, praticamente na sua frente, e que a PF nunca teve acesso à senha. "Não há inquérito em que ele seja investigado, não tivemos a senha, não há unidade da Caixa aqui na PF. Não há como o sigilo ter sido quebrado aqui", afirmou.

De acordo com Damázio, os policiais nem sequer pediram o cartão ao caseiro da mansão do Lago Sul. Solicitaram apenas os seus documentos, exigidos quando uma pessoa entra no programa federal de proteção às testemunhas. Foi Nildo quem entregou o cartão, além do RG e do CPF.

CAIXA

A Caixa distribuiu ontem, no final da tarde, uma curta nota à imprensa, na qual informa que instaurou procedimento de investigação visando a apurar, no âmbito interno, "eventuais responsabilidades pela divulgação de informações a respeito da conta de poupança do cliente Francenildo Santos Costa".

De acordo com a assessoria de imprensa da Caixa, a investigação está a cargo de uma auditoria interna.